
Os medicamentos fazem parte da rotina de várias pessoas. Embora muitos não afetem a capacidade de dirigir, alguns remédios podem ter efeitos colaterais que podem interferir na segurança ao volante. Entender como isso ocorre e adotar cuidados ajuda a reduzir riscos.
O neurologista Lucio Huebra, membro do Conselho Administrativo da Academia Brasileira do Sono (ABS), explica que determinados medicamentos podem causar sonolência e comprometer a atenção, os reflexos e a coordenação motora, aumentando o risco de acidentes.
“Entre eles estão psicotrópicos como antidepressivos, antipsicóticos e estabilizadores de humor, indutores do sono, ansiolíticos, benzodiazepínicos, além de antialérgicos antigos, anticonvulsivantes e analgésicos potentes, como os opioides”, detalha Huebra.
O médico lembra que os efeitos podem se estender para o período diurno mesmo quando o medicamento é tomado à noite, devido ao tempo prolongado de ação.
O psiquiatra Raphael Boechat, professor da Universidade de Brasília (UnB), acrescenta que existem remédios totalmente contraindicados para dirigir e outros que exigem atenção redobrada não apenas ao volante, mas também em atividades que envolvem máquinas, trabalhos de risco ou tarefas que exigem equilíbrio, como na construção civil.
“Algumas dessas medicações reduzem o tempo de reação e, em situações de emergência no trânsito, a pessoa pode demorar mais para frear ou desviar, aumentando a chance de acidentes”, explica Boechat.
Como os medicamentos afetam a direção
Medicamentos como antidepressivos, ansiolíticos e alguns antialérgicos provocam sonolência porque agem no cérebro diminuindo a atividade nervosa. “Isso deixa o paciente menos atento, com reflexos mais lentos, exatamente o que não deve ocorrer ao volante”, diz o neurologista Marcos Alexandre Carvalho Alves, coordenador de neurologia do Hospital Mater Dei, em Goiânia.
O efeito pode surgir de duas formas: potencializando vias inibitórias cerebrais que induzem o sono — como nos indutores de sono e benzodiazepínicos — ou bloqueando receptores de neurotransmissores excitatórios, como histamina, dopamina e noradrenalina, diminuindo o estado de alerta.
“Além disso, muitos desses medicamentos são metabolizados pelo fígado e podem ter efeito prolongado ou amplificado em idosos, crianças ou pessoas com doenças hepáticas“, acrescenta Huebra.
O consumo de álcool e a combinação de diferentes remédios também pode aumentar a sonolência, assim como privação ou distúrbios do sono.
O que observar na bula e com o médico
Antes de dirigir, é importante checar a bula e conversar com o médico ou farmacêutico. Os especialistas orientam que o paciente deve observar menções a sonolência, redução da atenção ou prejuízo na capacidade de dirigir e manejar máquinas.
“No início do tratamento, nos primeiros dias ou durante aumento de dose, os efeitos adversos são mais intensos e podem até ser inesperados”, afirma Huebra.
Boechat reforça que é obrigação do médico informar sobre esses efeitos. “Quando um remédio pode causar sonolência, o médico deve orientar o paciente sobre os cuidados”, completa.
O cuidado também envolve ajustar doses, horários e evitar combinações de medicamentos que aumentem a sonolência. “Evitar álcool, observar os efeitos percebidos e comunicar rapidamente ao médico são atitudes fundamentais. Sempre que notar algum grau de sonolência, é importante não dirigir”, acrescenta Huebra.
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