O Agente Secreto desponta como o principal nome do Brasil na corrida pelo Oscar 2026. Estrelado por Wagner Moura, o longa integra a lista dos 15 pré-selecionados da Academia para Melhor Filme Internacional e também figura na pré-lista da inédita categoria de Direção de Elenco, o que amplia a visibilidade e o fôlego do filme na temporada de premiações.
Dirigido por Kleber Mendonça Filho, o filme se passa no Recife dos anos 1970 e acompanha Marcelo, um professor que chega à cidade durante o Carnaval em busca de anonimato e reconstrução pessoal. A tentativa de recomeço se choca com a violência institucional da ditadura militar, em um contexto marcado por vigilância, perseguições políticas e instabilidade social.
O elenco também reúne nomes como Alice Carvalho, Gabriel Leone, Maria Fernanda Cândido, Hermila Guedes e Udo Kier, o que fortaleceu o alcance internacional da produção.
Para a crítica de cinema e votante do Globo de Ouro Fabiana Lima, o principal diferencial do longa está em seu histórico de reconhecimento fora do Brasil. “É o filme mais premiado do Festival de Cannes. Saiu com Melhor Ator e Melhor Direção, além do prêmio da Crítica Internacional e o da Sala de Cinema Independente da França”, afirma. Segundo ela, o número e o peso dos prêmios colocam o filme em posição privilegiada na disputa.
Fabiana destaca que Cannes ocupa hoje um papel central na dinâmica do Oscar. “Tem se tornado um grande termômetro. Muitos filmes que chegam fortes à temporada estreiam lá”, diz, ao citar o caso de Anora, vencedor da Palma de Ouro e, posteriormente, do Oscar de Melhor Filme.
Para a crítica, esse histórico consolida O Agente Secreto como um título que não entra na corrida por acaso, mas já validado por uma das vitrines mais influentes do cinema mundial.
Apesar de não seguir uma estrutura clássica, segundo Fabiana, o filme encontra pontos de contato claros com o perfil da Academia. “Kleber Mendonça Filho construiu uma grife internacional. Ele domina códigos do cinema e transforma a narrativa em algo que eu descrevi como um ‘pesadelo febril’”, ao ressaltar que o diretor aposta em uma linguagem autoral sem se afastar de referências reconhecíveis pelo cinema americano.
Essas referências aparecem de forma explícita. “Há ecos de Scorsese, De Palma e até uma violência mais gráfica que se aproxima de Tarantino. Esses códigos são facilmente reconhecidos pela indústria americana”, afirma.
“Vejo chances reais de indicação em outras categorias, como Melhor Ator e até Melhor Filme. A bilheteria cresce nos Estados Unidos e o lançamento segue em expansão”, diz.
Segundo a jornalista, roteirista e crítica Isabella Faria, a coerência estética do filme o diferencia dos concorrentes: “Ele conta a história pelas cores, pela composição visual e pela direção de arte. Isso cria uma imersão maior do que produções que escolhem caminhos mais minimalistas”.
A indicação na categoria de Direção de Elenco reforça esse cenário e para Isabella é um dos pontos altos do filme. “É o primeiro ano da categoria e existe um interesse claro em diversidade. O elenco de O Agente Secreto tem química e atuações centrais para o impacto do filme”, analisa.
Ao comparar a obra com Ainda Estou Aqui, que levou o Oscar de Melhor Filme Internacional do Oscar deste ano, Isabella identifica uma diferença fundamental de abordagem: “Ainda Estou Aqui aborda o tema da memória através do micro universo que é a família. Então a gente começa a ter uma noção do que é a ditadura militar a partir de um pai que é arrancado da sua família, da sua esposa e dos seus filhos. Em O Agente Secreto, o Kleber Mendonça fala de como brasileiro esquece coisas como a ditadura militar de uma forma mais política e usando o suspense”.






