
Mais de um terço da população adulta mundial convive com a doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica (MASLD), a forma mais comum de doença hepática crônica. Ela ocorre quando há acúmulo de gordura no fígado associado a condições como obesidade, diabetes tipo 2, pressão alta, colesterol HDL baixo e níveis elevados de açúcar no sangue.
Esses fatores, chamados de cardiometabólicos, afetam o coração e o metabolismo e aumentam o risco de complicações graves. Embora a MASLD possa evoluir para quadros severos, como cirrose e insuficiência cardíaca ou renal, ainda há poucas pesquisas que identificam quais desses fatores representam maior ameaça à vida.
Um novo estudo da Universidade do Sul da Califórnia (USC), publicado em 17 de setembro na revista Clinical Gastroenterology and Hepatology, trouxe respostas importantes.
O que é gordura no fígado?
- Popularmente chamada de gordura no fígado, a esteatose hepática acontece quando as células do órgão acumulam gordura em excesso.
- Nos estágios iniciais, a condição costuma ser silenciosa e não apresenta sintomas evidentes.
- À medida que progride, porém, podem surgir dores abdominais na parte superior direita do abdômen, cansaço, fraqueza, perda de apetite, aumento do fígado, inchaço na barriga, dor de cabeça frequente e dificuldade para perder peso.
- As principais causas estão relacionadas à obesidade, diabetes, colesterol alto e consumo excessivo de álcool.
- A doença é mais comum em mulheres sedentárias, já que o hormônio estrogênio favorece o acúmulo de gordura no fígado. Ainda assim, pessoas magras, que não bebem, e até crianças também podem desenvolver a condição.
Pressão alta supera a diabetes em risco de morte
O estudo da USC identificou três condições que mais aumentam o risco de morte em pessoas com gordura no fígado: pressão alta, pré-diabetes ou diabetes tipo 2 e baixos níveis de colesterol HDL, conhecido como colesterol “bom”.
Entre elas, a hipertensão se destacou como o fator mais perigoso, elevando em 40% a probabilidade de mortalidade. Já a diabetes aumentou esse risco em 25%, e o HDL baixo, em 15%.
Os resultados se mantiveram consistentes independentemente da combinação de fatores presentes, além de idade, sexo ou etnia dos pacientes.
Para os autores, os dados reforçam a necessidade de um acompanhamento mais rigoroso da pressão arterial entre pessoas com a condição.
“A MASLD é uma doença complexa, e este estudo mostra onde os médicos podem concentrar seus esforços para reduzir os desfechos mais graves”, afirma a hepatologista Norah Terrault, do centro Keck Medicine da USC e autora sênior do trabalho, em comunicado.
O pesquisador Matthew Dukewich, principal autor do estudo, conta que a equipe se surpreendeu ao constatar que a hipertensão apresentava um risco ainda maior do que a diabetes. “Acreditava-se que a diabetes fosse o problema mais urgente entre esses pacientes. Essa descoberta muda nossa compreensão sobre o que deve ser priorizado no tratamento”, afirma.
Risco aumenta com mais fatores cardiometabólicos
A obesidade também se mostrou um fator relevante, com impacto que varia conforme o índice de massa corporal (IMC). Quanto maior o IMC, maior a associação com risco de morte.
O estudo apontou ainda que cada novo fator de risco cardiometabólico presente eleva em 15% a probabilidade de mortalidade, o que reforça a importância de um acompanhamento integrado entre diferentes especialidades médicas.
Para chegar aos resultados, os pesquisadores analisaram dados da Pesquisa Nacional de Exame de Saúde e Nutrição (NHANES), que reúne informações de saúde de adultos e crianças nos Estados Unidos entre 1988 e 2018.
Dos mais de 134 mil participantes com mais de 20 anos, cerca de 21 mil foram classificados com MASLD. A equipe então comparou as taxas de mortalidade de acordo com cada fator de risco.
Os cientistas pretendem agora aprofundar a pesquisa para entender como o histórico genético, a alimentação e o consumo de álcool podem influenciar a progressão da doença. “Quanto mais compreendermos os fatores que impulsionam a MASLD, mais precisos seremos ao identificar os pacientes que precisam de intervenções e ao definir prioridades no cuidado”, afirma Terrault.
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