O verão é sinônimo de férias, sol e praia, mas também traz um aumento nos casos de doenças infecciosas, especialmente as que atingem o sistema digestivo.
O calor intenso, a maior circulação de pessoas e o consumo de alimentos fora de casa criam um cenário propício para infecções e intoxicações alimentares. Por isso, médicos alertam: alguns cuidados simples podem evitar que a viagem termine em mal-estar. Segundo a infectologista Carla Kobayshi, do Hospital Sírio-Libanês, as infecções gastrointestinais são as mais comuns nessa época do ano.
“Elas se manifestam principalmente com diarreia, vômitos, náuseas, dor abdominal e falta de apetite. Podem ser causadas por vírus, bactérias ou toxinas”, explica.
Entre os vírus mais frequentes estão o rotavírus e o norovírus, que se espalham com facilidade em ambientes com grande circulação de pessoas, como praias e casas de temporada.
O calor intenso favorece esses quadros porque acelera a proliferação de microrganismos nos alimentos. “As altas temperaturas facilitam a produção de toxinas e aumentam o risco quando há falhas no armazenamento, preparo e manipulação dos alimentos”, afirma a infectologista. Além disso, o calor também contribui para a desidratação, o que pode agravar os sintomas.
Água, feridas e contato próximo
Ambientes aquáticos, como praias e piscinas, também exigem atenção. Embora a água do mar em si não seja a principal vilã, o risco aumenta em locais lotados e com pouca higiene das mãos.
Nessas situações, vírus podem ser transmitidos de pessoa para pessoa, principalmente quando há contato próximo e manipulação de alimentos sem a limpeza adequada. Outro ponto de alerta são feridas, cortes e picadas de insetos. No verão, queimaduras solares, pequenos machucados e lesões na pele são mais comuns.
“Essas lesões podem servir como porta de entrada para infecções de pele e partes moles, que podem evoluir para quadros mais graves se não forem cuidadas adequadamente”, diz Kobayshi.
Do ponto de vista do aparelho digestivo, o gastroenterologista Mario Kondo, também do Hospital Sírio-Libanês, explica por que diarreia, vômitos e intoxicações alimentares disparam nas férias.
“Os alimentos mal conservados se deterioram mais rapidamente com as temperaturas mais altas. O calor favorece a proliferação de bactérias e a produção de toxinas”, afirma.
Ele destaca que existem dois mecanismos principais de intoxicação alimentar: um em que a bactéria está presente em pequena quantidade, mas produz muita toxina, e outro em que a multiplicação intensa da bactéria é a responsável pelos sintomas. Em ambos os casos, o resultado costuma ser desconforto gastrointestinal.
Barracas de praia e locais turísticos merecem atenção redobrada. O risco existe quando alimentos que deveriam estar refrigerados ficam fora da temperatura adequada, seja por falta de eletricidade ou de acondicionamento correto.
“O consumidor deve observar as condições de higiene e se há possibilidade real de manter os alimentos sob refrigeração quando necessário”, orienta Kondo.
Principais cuidados para evitar doenças na praia
- Manter boa higiene das mãos, especialmente antes de comer.
- Consumir apenas alimentos bem armazenados e, quando necessário, refrigerados.
- Evitar comidas expostas ao calor por longos períodos.
- Beber líquidos com frequência para prevenir desidratação.
- Usar protetor solar e repelente para evitar queimaduras e picadas.
- Cuidar de cortes e feridas, mantendo-os limpos e protegidos.
- Evitar compartilhar objetos pessoais.
- Redobrar a atenção com crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas.
Quando procurar ajuda médica
Nem todo episódio de diarreia ou vômito exige atendimento médico imediato, mas há sinais de alerta. Quadros leves geralmente permitem hidratação oral e recuperação em casa.
Já vômitos persistentes, evacuações muito frequentes, incapacidade de ingerir líquidos e sinais de desidratação — como boca seca, redução do volume de urina, choro sem lágrimas e queda do estado geral — indicam a necessidade de avaliação médica, especialmente em crianças e idosos.
A presença de febre também é um sinal importante. “Febre associada a diarreia ou vômitos pode indicar um quadro mais grave”, reforça o gastroenterologista. Nesses casos, buscar atendimento mais cedo ajuda a evitar complicações.
De acordo com especialistas, com atenção à higiene, à escolha dos alimentos e à hidratação, é possível aproveitar o melhor do verão sem transformar as férias em um problema de saúde.