A Justiça de Santa Catarina determinou a suspensão de buscas e apreensões de caminhões alugados pelo empresário Vanderson de Melo, mentorado do ex-coach Pablo Marçal e acusado por gigantes do setor de transporte e logística de sumir com 40 veículos alugados e fazer de tudo para escondê-los ou fraudar suas placas para não serem resgatados.
A liminar foi concedida em meio a uma decisão que deferiu também o processamento de um pedido de recuperação judicial do Grupo Brasil Novo, empresa de caminhões de Melo. Ele alegou à Justiça que sua empresa passou a ter dificuldades com o aumento dos preços dos combustíveis e o baixo valor de frete do agronegócio nos últimos anos. A empresa afirma ter R$ 74 milhões em dívidas.
Segundo o Grupo Brasil Novo, os caminhões alvos de buscas são “o coração das atividades das empresas”, e a suspensão das buscas suspenderia “o colapso iminente das operações e permitindo a continuidade das atividades empresariais”. “Caso não seja concedida a medida, há risco real de desestruturação do grupo e de demissão em massa de seus colaboradores, gerando impactos sociais e econômicos irreparáveis”, afirmou a empresa.
A empresa Von Satiel, nomeada pelo juiz como administradora judicial, concordou com o pedido e afirmou que os caminhões são “bens indispensáveis para a realização da atividade” da Brasil Novo. O juiz do caso, Luiz Henrique Bonatelli, deferiu o pedido para caminhões que já não tenham sido apreendidos. Também autorizou desbloqueios na casa de R$ 2 milhões.
Como mostrou o Metrópoles, agentes do Judiciário percorrem pelo menos cinco estados do país em busca dos caminhões que Melo alugou, não pagou e também não devolveu. A dívida de apenas um desses contratos chega aos R$ 7,2 milhões. Apenas uma das empresas tem buscado 40 caminhões. Mais de 20 foram recuperados escondidos e, alguns, depenados e batidos.
História de sucesso
Vanderson apoiou a campanha de Marçal à Prefeitura de São Paulo em 2024 e esteve em eventos com o candidato, incluindo debate em televisão e, até, pescaria. “Ele era motorista de caminhão. Hoje, ele tem uma das maiores empresas da América Latina de logística. Esse ano de 2024, já vai bater duas mil placas de carreta, caminhão, os trem doido (sic)”, disse Marçal sobre o mentorado, durante palestra a seguidores.
Assim como o “mentor”, Melo se considera influenciador e dá palestras sobre sua história de sucesso. Em uma rede social, ele se apresenta como motorista de caminhão, investidor, palestrante, empreendedor entusiasta e fundador Grupo Brasil Novo.
Em um vídeo n0 Instagram, ele mostra o veículo “frota zero um”, que seria o símbolo de sua trajetória de sucesso. Vanderson de Melo conta ter trocado, em 2001, um Corsa pelo caminhão, que, aos poucos, foi sendo restaurado. Seria o início do Grupo Brasil Novo. O exemplo de prosperidade inspira seus pouco mais de 4 mil seguidores.
“Tu és exemplo de trabalho e resiliência, me lembro de quando passavas lá na frente da Fiat, até virar nosso cliente, estamos falando de mais de 20 anos. Fé em Deus sempre”, escreve um seguidor. Outro pede publicações sobre como Melo teria passado de caminhoneiro a empresário de sucesso: “Top demais, vc podia fazer um video de como começou que tipo de carga, e as troca de caminhão e por diante. Ia ser bem legal, ia ser uma inspiração para quem quer começar e tem medo”.
Legendário
Há cerca de cinco meses, Vanderson de Melo participou de um evento do movimento Legendários, que promove retiros espirituais exclusivos para homens e que já atraiu famosos, como os influenciadores Eliezer e Gustavo Tubarão, o investidor Thiago Nigro, o pregador Deive Leonardo e o empresário Kaká Diniz, marido de Simone Mendes.
Segundo a organização, o Legendários é um projeto que busca ajudar homens a se reconectarem com seus propósitos, promovendo transformações pessoais que impactam também suas famílias e comunidades.
O golpe
Em 2020, a empresa de caminhões de melo firmou contrato com uma gigante do setor de logística para alugar 40 caminhões. O tempo passou, a empresa entrou em crise financeira e ele parou de pagar as mensalidades – hoje, a dívida está em R$ 7,2 milhões. Também não devolveu os caminhões.
A Justiça autorizou buscas e apreensões para recuperar a frota. Até hoje, 18 caminhões não apareceram. Outros 22 foram escondidos das formas mais criativas. Uns tiveram placas trocadas, outros foram levados para locais afastados da sede da empresa, sem GPS. O esquema funciona assim: troca-se a placa de um caminhão que é objeto de bloqueio judicial por outra sobre a qual não recai qualquer ordem da Justiça. Assim, o veículo roda, e os credores nunca o encontram.
Troca de placas
Como mostrou o Metrópoles, em duas oportunidades, o caso foi parar na polícia. No início de junho, advogados da empresa proprietária dos caminhões foram a um endereço em Barueri, na Região Metropolitana de São Paulo, para levar caminhões embora.
Quando chegaram lá, depararam-se com funcionários correndo para tirar as placas dos caminhões que foram encontrados – tudo foi acompanhado por um oficial de Justiça e filmado.
Em outra oportunidade, dois caminhões foram flagrados com placas frias pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) em uma rodovia no Rio Grande do Sul. Os agentes pararam os veículos e descobriram na seguradora a dívida, que deu ensejo ao bloqueio deles.
Advogados da empresa dona dos caminhões já encontraram os veículos cobertos por lonas em um terreno em Redenção, no Pará, e em estados como Mato Grosso, Santa Catarina e Maranhão.
Não comentou o caso das trocas de placas de caminhões nem as apreensões da polícia, mas disse que não há “nada além” da crise financeira vivida pela empresa. “Estamos tomando todas as medidas possíveis por todas essas barbaridades que estão falando por aí”, pontuou.
“Quando se faz algo que tem uma trajetória de sucesso, ninguém dá muita importância. Agora, quando acontece qualquer deslize ou qualquer momento pontual realmente de dificuldade, todo mundo joga a primeira pedra”, afirmou.
Leave a Reply