
Um novo estudo publicado na revista Science Translational Medicine na última quarta-feira (15/10) revelou uma das razões pelas quais o cérebro das mulheres é mais suscetível a doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e esclerose múltipla.
Os pesquisadores identificaram que o gene Kdm6a, localizado no cromossomo X, exerce um papel essencial na proteção do sistema nervoso central — e que sua ausência ou mau funcionamento pode deixar as células cerebrais mais vulneráveis à inflamação e à morte neuronal.
O gene Kdm6a é mais ativo em mulheres, que possuem dois cromossomos X, enquanto os homens têm apenas um. No entanto, paradoxalmente, essa vantagem genética pode se tornar um risco.
Segundo os autores, quando o gene é desativado ou alterado, o efeito protetor desaparece, levando a um desequilíbrio na função das microglias, células responsáveis por defender o cérebro de infecções e inflamações. Essa falha de regulação pode contribuir para o surgimento e a progressão de doenças como Alzheimer e esclerose múltipla.
O que é o Alzheimer?
- O Alzheimer é uma doença que afeta o funcionamento do cérebro de forma progressiva, prejudicando a memória e outras funções cognitivas.
- Ainda não se sabe exatamente o que causa o problema, mas há indícios de que ele esteja ligado à genética.
- É o tipo mais comum de demência em pessoas idosas e, segundo o Ministério da Saúde, responde por mais da metade dos casos registrados no Brasil.
- O sinal mais comum no início é a perda de memória recente. Com o avanço da doença, surgem outros sintomas mais intensos, como dificuldade para lembrar de fatos antigos, confusão com horários e lugares, irritabilidade, mudanças na fala e na forma de se comunicar.
Nos experimentos com camundongos, a remoção do Kdm6a em células microgliais resultou em inflamações cerebrais mais intensas e danos neuronais semelhantes aos observados em pacientes humanos. As fêmeas apresentaram reações inflamatórias mais severas, confirmando que o efeito do gene está ligado ao sexo biológico e à regulação do cromossomo X.
O estudo ajuda a explicar por que mulheres têm duas a três vezes mais chances de desenvolver esclerose múltipla e são mais afetadas por Alzheimer, especialmente após a menopausa.
De acordo com os cientistas, compreender o papel do Kdm6a abre caminho para terapias personalizadas que considerem as diferenças biológicas entre homens e mulheres — um passo importante para a medicina de precisão aplicada às doenças neurológicas.
Os autores ressaltam que ainda são necessários novos testes para avaliar como outros fatores, como hormônios sexuais e envelhecimento, interagem com o gene.
Ainda assim, o trabalho representa um avanço importante para entender a desigualdade de gênero na saúde cerebral e pode, no futuro, orientar o desenvolvimento de medicamentos específicos para proteger o cérebro feminino.
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