O intestino deixou de ser visto apenas como parte do sistema digestivo e passou a ocupar um papel central na saúde do corpo. Hoje, a medicina reconhece que ele influencia diretamente a imunidade, o humor, o metabolismo e o risco de diversas doenças.
Por isso, cuidar do funcionamento intestinal vai muito além de evitar prisão de ventre ou diarreia: envolve escolhas diárias que impactam todo o organismo.
Segundo a gastroenterologista Eloiza Quintela, consultora médica da Associação de Hospitais e Serviços de Saúde do Estado de São Paulo (AHOSP), cerca de 70% da imunidade do corpo está concentrada no intestino.
Além disso, ele participa da produção de neurotransmissores ligados ao bem-estar, à ansiedade e ao humor. “Hoje, o intestino é visto quase como um ‘segundo cérebro’. Ele interfere na regulação hormonal, no ganho de peso e na saúde emocional”, afirma.
Essa relação já tem comprovação científica. Eloiza explica que as novas medicações para emagrecimento atuam justamente em hormônios produzidos no intestino. Quando o órgão não funciona bem, aumentam os riscos de inflamações, doenças metabólicas e até condições autoimunes.
A barreira interna do organismo
Para a gastroenterologista Debora Poli, do Hospital Sírio-Libanês, o intestino funciona como uma barreira de proteção entre o ambiente externo e o interior do corpo. Tudo o que é ingerido entra em contato com células da mucosa intestinal e com a microbiota — o conjunto de microrganismos que vivem ali.
“O intestino é a nossa barreira interna. O que passa por ele pode influenciar imunidade, hormônios, processos neurológicos, humor e o desenvolvimento de doenças”, explica.
Essa conexão acontece porque o intestino possui células que se comunicam diretamente com o sistema nervoso, formando o chamado eixo intestino-cérebro. Isso ajuda a entender por que alterações emocionais costumam se refletir em sintomas intestinais — e por que problemas no intestino também podem afetar o humor.
Hábitos que mais prejudicam o intestino hoje
Entre os principais fatores que atrapalham a saúde intestinal estão o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, pobres em fibras e ricos em açúcar, o estresse crônico, o sedentarismo e o uso frequente de medicamentos como antibióticos, anti-inflamatórios e laxantes.
Essas substâncias alteram a microbiota intestinal, reduzindo as bactérias benéficas e favorecendo sintomas como constipação, diarreia, gases e inchaço abdominal.
Segundo as especialistas, há evidências consistentes mostrando que aditivos químicos presentes em ultraprocessados prejudicam a função de barreira do intestino e podem desencadear inflamações.
Os melhores hábitos para manter o intestino saudável
- Manter uma alimentação rica em fibras, com frutas, verduras, legumes, sementes e cereais integrais.
- Reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados, ricos em açúcar e aditivos químicos.
- Beber água regularmente ao longo do dia para evitar fezes ressecadas e constipação.
- Praticar atividade física com frequência para estimular o movimento do intestino.
- Controlar o estresse e cuidar da saúde emocional, devido à relação entre intestino e cérebro.
- Evitar o uso frequente de laxantes, chás e probióticos sem orientação médica.
- Respeitar a vontade de evacuar e manter uma rotina intestinal regular.
- Realizar acompanhamento médico e check-ups periódicos.
Frequência intestinal: o que é normal e o que alerta
A evacuação considerada saudável é aquela que ocorre sem dor, esforço excessivo ou desconforto. Eloiza explica que o ideal é evacuar de uma a três vezes ao dia, mas ir ao banheiro a cada dois dias também pode ser normal, desde que não haja sintomas associados.
O sinal de alerta surge quando evacuar passa a ser difícil ou doloroso, quando há sangue nas fezes, fezes muito duras, diarreia persistente ou mudanças súbitas no hábito intestinal.
E novamente a alimentação vira protagonista. Debora diz que fibras são essenciais para o bom funcionamento do intestino porque estimulam o trânsito intestinal e alimentam as bactérias benéficas da microbiota. Quanto mais variada for a alimentação, mais diversa e saudável tende a ser a microbiota. Alimentos fermentados, como iogurte e chucrute, também ajudam nesse equilíbrio.
A hidratação adequada é outro ponto-chave. Beber água ao longo do dia evita que as fezes fiquem ressecadas e ajuda a prevenir a constipação. Não é necessário exagerar na quantidade: o importante é manter regularidade.
Exercício, estresse e uso de medicamentos
A atividade física melhora a motilidade intestinal, ou seja, as contrações que fazem o intestino funcionar corretamente. De acordo com Quintela, isso reduz inflamações, melhora o intestino preso e diminui o inchaço abdominal. Por outro lado, o estresse e a ansiedade alteram hormônios e nervos que controlam o intestino, podendo piorar quadros como dor, diarreia e constipação.
O uso frequente de laxantes, probióticos ou chás também exige cautela. As especialistas alertam que esses produtos podem causar dependência, perda de eletrólitos importantes e mascarar doenças, devendo ser usados apenas com orientação médica.
Sangue nas fezes, perda de peso sem explicação, anemia, dor abdominal frequente, diarreia ou constipação persistentes, alteração súbita do hábito intestinal, fezes com formato diferente e histórico familiar de câncer de intestino são sinais que exigem avaliação médica.
Manter um médico de referência e realizar check-ups regulares ajuda a identificar problemas precocemente. Cuidar do intestino é investir na saúde do corpo inteiro. Pequenas mudanças na rotina podem trazer benefícios duradouros para o bem-estar físico e emocional.