Pesquisadores da Fiocruz identificaram que uma nanopartícula do óxido de ferro é capaz de reduzir o avanço do câncer de mama. Em testes com animais, o composto impediu a multiplicação de células tumorais e ajudou a evitar que o câncer se espalhasse para o tecido saudável.
Os resultados da investigação foram publicados na revista Cancer Nanotechnology em maio. “As nanopartículas são capazes de impedir que as células cancerígenas se espalhem e que o tumor dê origem a metástases. E o melhor: sem causar danos ao organismo”, celebrou o pesquisador Carlos Eduardo Calzavara (foto em destaque), da Fiocruz Minas, à frente do estudo, juntamente com a pós-doutoranda Camila Sales do Nascimento.
Os investigadores afirmam que, caso os resultados positivos sigam sendo confirmados, a substância poderá atuar como tratamento complementar ao câncer, mas ainda são necessários mais testes antes do uso em seres humanos.
Principais sintomas do câncer de mama
Aparecimento de nódulo, geralmente indolor, duro e irregular, nas mamas.
Edema na pele, que fica com aparência de casca de laranja.
Retração da pele.
Dor.
Inversão do mamilo.
Descamação ou ulceração do mamilo.
Secreção transparente, rosada ou avermelhada que sai do mamilo.
Linfonodos palpáveis na axila.
Ação no sistema imunológico
A pesquisa foi feita em camundongos com câncer de mama divididos em dois grupos. Parte deles fez um tratamento padrão combinado de quimio e radioterapia para deter a doença e o outro grupo, além deste tratamento, recebeu as nanopartículas.
Ao comparar os resultados, os pesquisadores observaram maior presença de células NK, que atacam células doentes, entre os animais tratados com as nanopartículas. Também foi registrada redução dos neutrófilos, índice que em muitos casos indica a progressão do câncer.
A análise mostrou que as partículas ativaram o sistema imunológico, forçando uma resposta contra o tumor. “O câncer libera substâncias que enganam o sistema de defesa. As nanopartículas despertam uma reação inflamatória, que ativa as células de proteção. Elas acordam o sistema imune, que detecta as células cancerígenas e as elimina”, explicou Calzavara.
Metástase nos órgãos-alvo
Entre os animais tratados, os cientistas registraram queda na produção da molécula MCP-1, associada à formação de metástase. Isso ajudou a reduzir o número de focos de câncer nos pulmões nos animais tratados.
O fígado, outro órgão frequentemente atingido pela metástase do câncer de mama, também foi analisado. Os resultados mostraram que a presença de células tumorais foi baixa em ambos grupos que passaram pelo tratamento.
Esses dados reforçam a hipótese de que a nanopartícula pode limitar a capacidade de o câncer se espalhar ao agir sobre os mecanismos de evasão do sistema imunológico.
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Câncer de mama é uma doença caracterizada pela multiplicação desordenada de células da mama causando tumor. Apesar de acometer, principalmente, mulheres, a enfermidade também pode ser diagnosticada em homens
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Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), há vários tipos de câncer de mama. Alguns têm desenvolvimento rápido, enquanto outros crescem lentamente. A maioria dos casos, quando tratados cedo, apresentam bom prognóstico
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Não há uma causa específica para a doença. Contudo, fatores ambientais, genéticos, hormonais e comportamentais podem aumentar o risco de desenvolvimento da enfermidade. Além disso, o risco aumenta com a idade, sendo comum em pessoas com mais de 50 anos
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Apesar de haver chances reais de cura se diagnosticado precocemente, o câncer de mama é desafiador. Muitas vezes, leva a força, os cabelos, os seios, a autoestima e, em alguns casos, a vida. Segundo o Inca, a enfermidade é responsável pelo maior número de óbitos por câncer na população feminina brasileira
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Os principais sinais da doença são o aparecimento de caroços ou nódulos endurecidos e geralmente indolores. Além desses, alteração na característica da pele ou do bico dos seios, saída espontânea de líquido de um dos mamilos, nódulos no pescoço ou na região das axilas e pele da mama vermelha ou parecida com casca de laranja são outros sintomas
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O famoso autoexame é extremamente importante na identificação precoce da doença. No entanto, para fazê-lo corretamente é importante realizar a avaliação em três momentos diferentes: em frente ao espelho, em pé e deitada
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Faça o autoexame. Em frente ao espelho, tire toda a roupa e observe os seios com os braços caídos. Em seguida, levante os braços e verifique as mamas. Por fim, coloque as mãos apoiadas na bacia, fazendo pressão para observar se existe alguma alteração na superfície dos seios
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A palpação de pé deve ser feita durante o banho com o corpo molhado e as mãos ensaboadas. Para isso, levante o braço esquerdo, colocando a mão atrás da cabeça. Em seguida, apalpe cuidadosamente a mama esquerda com a mão direita. Repita os passos no seio direito
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A palpação deve ser feita com os dedos da mão juntos e esticados, em movimentos circulares em toda a mama e de cima para baixo. Depois da palpação, deve-se também pressionar os mamilos suavemente para observar se existe a saída de qualquer líquido
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Por fim, deitada, coloque a mão esquerda na nuca. Em seguida, com a mão direita, apalpe o seio esquerdo verificando toda a região. Esses passos devem ser repetidos no seio direito para terminar a avaliação das duas mamas
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Mulheres após os 20 anos que tenham casos de câncer na família ou com mais de 40 anos sem casos de câncer na família devem realizar o autoexame da mama para prevenir e diagnosticar precocemente a doença
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O autoexame também pode ser feito por homens, que apesar da atipicidade, podem sofrer com esse tipo de câncer, apresentando sintomas semelhantes
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De acordo com especialistas, diante da suspeita da doença, é importante procurar um médico para dar início a exames oficiais, como a mamografia e análises laboratoriais, capazes de apontar a presença da enfermidade
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É importante saber que a presença de pequenos nódulos na mama não indica, necessariamente, que um câncer está se desenvolvendo. No entanto, se esse nódulo for aumentando ao longo do tempo ou se causar outros sintomas, pode indicar malignidade e, por isso, deve ser investigado por um médico
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O tratamento do câncer de mama dependerá da extensão da doença e das características do tumor. Contudo, pode incluir cirurgia, radioterapia, quimioterapia, hormonioterapia e terapia biológica
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Os resultados, porém, são melhores quando a doença é diagnosticada no início. No caso de ter se espalhado para outros órgãos (metástases), o tratamento buscará prolongar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida do paciente
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Reprogramação dos macrófagos
Uma pesquisa anterior publicada em 2023 já havia mostrado outro efeito das nanopartículas: a mudança no perfil de macrófagos, células do sistema imune. Elas foram convertidas do tipo M2 para o tipo M1. Enquanto os macrófagos M2 ajudam o tumor a crescer, os M1 são mais eficazes na contenção do câncer. A nanopartícula foi capaz de promover essa mudança, o que resultou em redução da massa tumoral.
Nos testes, houve uma queda de cerca de 50% no volume dos tumores em animais que receberam a nanopartícula. A nova pesquisa detalhou como esse processo de reprogramação acontece.
Avanço com foco na imunoterapia
O câncer de mama continua sendo uma das doenças mais letais no mundo. Muitos pacientes enfrentam recidivas, resistência ao tratamento ou efeitos adversos das terapias atuais. A descoberta pode beneficiar especialmente pacientes que não respondem às abordagens tradicionais. A expectativa é integrar a nanopartícula a estratégias já utilizadas na oncologia.
Apesar dos resultados positivos, ainda serão necessários novos testes. A próxima etapa é pré-clínica, quando são avaliadas a toxicidade, dosagem ideal, metabolização e excreção da substância pelo organismo.
Só após essa fase será possível avançar para os testes clínicos. Neles, a substância será avaliada em humanos, com controle rigoroso dos efeitos e resultados obtidos. Esse processo pode levar anos. Mesmo assim, os pesquisadores destacam que os dados já obtidos representam um avanço importante na luta contra o câncer.