Mulheres que não realizam a primeira mamografia têm até 40% mais risco de morrer por câncer de mama, segundo um estudo do Instituto Karolinska, na Suécia, publicado em setembro no British Medical Journal (BMJ). A pesquisa acompanhou 432 mil mulheres por 25 anos, avaliando sua rotina preventiva contra os tumores.
“Os atrasos no diagnóstico decorrentes de não fazer os exames têm um impacto direto na sobrevida das pacientes, especialmente para aquelas com subtipos de tumores mais agressivos e de evolução mais rápida”, comenta a oncologista Heloisa Veasey Rodrigues, médica do Grupo de Mama do Einstein Hospital Israelita.
Para a maioria das faltantes na primeira mamografia, o hábito de não comparecer nos prazos corretos permaneceu ao longo do tempo. Durante os 25 anos de pesquisa, as mulheres deveriam ter feito 10 exames: as que foram à primeira consulta indicada compareceram a uma média de 8,74 triagens, enquanto as faltantes cumpriram quase metade disso, 4,77 testes.
A mortalidade 40% maior entre as que não compareciam foi atribuída justamente às faltas na prevenção. Até porque, segundo o estudo, a incidência global de câncer foi parecida entre os grupos — 7,8% entre participantes em relação a 7,6% entre não participantes.
A justificativa para a alta de mortes foi que os tumores diagnosticados naquelas fora do rastreamento padrão eram mais avançados, sendo que um terço delas descobriu o câncer quando ele já era sintomático. “Embora a incidência seja equivalente, os tumores diagnosticados fora do rastreamento podem ter um prognóstico pior e consequentemente menores chances de cura”, explica Rodrigues.
A falta de adesão à mamografia pode refletir um comportamento de risco que combina uma série de fatores: falta de conhecimento da necessidade de prevenção, baixo acesso aos exames e até medo do diagnóstico. “Existe ainda um estigma do câncer de mama ser muito associado ao tratamento agressivo e que ele reduz a qualidade de vida. É uma visão equivocada, atrelada a uma ideia antiga de que o câncer é uma doença de tratamento difícil e incurável”, afirma a oncologista.
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Câncer de mama é uma doença caracterizada pela multiplicação desordenada de células da mama causando tumor. Apesar de acometer, principalmente, mulheres, a enfermidade também pode ser diagnosticada em homens
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Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), há vários tipos de câncer de mama. Alguns têm desenvolvimento rápido, enquanto outros crescem lentamente. A maioria dos casos, quando tratados cedo, apresentam bom prognóstico
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Não há uma causa específica para a doença. Contudo, fatores ambientais, genéticos, hormonais e comportamentais podem aumentar o risco de desenvolvimento da enfermidade. Além disso, o risco aumenta com a idade, sendo comum em pessoas com mais de 50 anos
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Apesar de haver chances reais de cura se diagnosticado precocemente, o câncer de mama é desafiador. Muitas vezes, leva a força, os cabelos, os seios, a autoestima e, em alguns casos, a vida. Segundo o Inca, a enfermidade é responsável pelo maior número de óbitos por câncer na população feminina brasileira
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Os principais sinais da doença são o aparecimento de caroços ou nódulos endurecidos e geralmente indolores. Além desses, alteração na característica da pele ou do bico dos seios, saída espontânea de líquido de um dos mamilos, nódulos no pescoço ou na região das axilas e pele da mama vermelha ou parecida com casca de laranja são outros sintomas
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O famoso autoexame é extremamente importante na identificação precoce da doença. No entanto, para fazê-lo corretamente é importante realizar a avaliação em três momentos diferentes: em frente ao espelho, em pé e deitada
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Faça o autoexame. Em frente ao espelho, tire toda a roupa e observe os seios com os braços caídos. Em seguida, levante os braços e verifique as mamas. Por fim, coloque as mãos apoiadas na bacia, fazendo pressão para observar se existe alguma alteração na superfície dos seios
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A palpação de pé deve ser feita durante o banho com o corpo molhado e as mãos ensaboadas. Para isso, levante o braço esquerdo, colocando a mão atrás da cabeça. Em seguida, apalpe cuidadosamente a mama esquerda com a mão direita. Repita os passos no seio direito
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A palpação deve ser feita com os dedos da mão juntos e esticados, em movimentos circulares em toda a mama e de cima para baixo. Depois da palpação, deve-se também pressionar os mamilos suavemente para observar se existe a saída de qualquer líquido
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Por fim, deitada, coloque a mão esquerda na nuca. Em seguida, com a mão direita, apalpe o seio esquerdo verificando toda a região. Esses passos devem ser repetidos no seio direito para terminar a avaliação das duas mamas
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Mulheres após os 20 anos que tenham casos de câncer na família ou com mais de 40 anos sem casos de câncer na família devem realizar o autoexame da mama para prevenir e diagnosticar precocemente a doença
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O autoexame também pode ser feito por homens, que apesar da atipicidade, podem sofrer com esse tipo de câncer, apresentando sintomas semelhantes
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De acordo com especialistas, diante da suspeita da doença, é importante procurar um médico para dar início a exames oficiais, como a mamografia e análises laboratoriais, capazes de apontar a presença da enfermidade
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É importante saber que a presença de pequenos nódulos na mama não indica, necessariamente, que um câncer está se desenvolvendo. No entanto, se esse nódulo for aumentando ao longo do tempo ou se causar outros sintomas, pode indicar malignidade e, por isso, deve ser investigado por um médico
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O tratamento do câncer de mama dependerá da extensão da doença e das características do tumor. Contudo, pode incluir cirurgia, radioterapia, quimioterapia, hormonioterapia e terapia biológica
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Os resultados, porém, são melhores quando a doença é diagnosticada no início. No caso de ter se espalhado para outros órgãos (metástases), o tratamento buscará prolongar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida do paciente
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Quando fazer o exame
A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) recomenda que o rastreamento comece aos 40 e siga até os 74 anos com exames anuais. Para aumentar o índice de exames, em setembro de 2025, o Sistema Único de Saúde (SUS) desburocratizou a realização para mulheres entre 40 e 50 anos, que anteriormente precisavam ter histórico familiar ou recomendação médica expressa para fazer a triagem na rede pública.
Para a oncologista do Einstein, a inclusão de mulheres mais jovens nas filas para a realização de mamografia é uma preocupação crítica para combater os tumores. Isso porque aqueles que surgem antes da menopausa costumam ser mais agressivos. “Especialmente no Brasil, a ocorrência de tumores de mama antes dos 50 anos é mais comum do que em outras regiões do mundo”, alerta Heloisa Rodrigues.
Campanhas e carretas da mamografia
Estudos internacionais como o dos pesquisadores do Instituto Karolinska reforçam que a participação inicial em programas de rastreamento contra o câncer de mama tem efeito prolongado na redução da mortalidade.
Para garantir o acompanhamento regular, entretanto, é preciso que as mulheres sejam conscientizadas da importância da mamografia, e que políticas públicas levem o exame a regiões de menor acesso. “É sempre importante investir em campanhas de rastreamento e diagnóstico rápido, como as carretas da mamografia. Quando há informação, o medo diminui. É importante explicar que a mamografia não é dolorosa, que o tratamento evoluiu e que há altas taxas de cura”, conclui a oncologista.