Pegar uma coberta para dormir em noites quentes, ligar o ventilador mesmo no frio ou ligar a televisão para pegar no sono pode parecer algo estranho para algumas pessoas, mas faz parte do ritual do sono de muita gente. Na hora de dormir, cada um tem seu comportamento específico e, mesmo inconscientemente, eles são uma forma de avisar ao cérebro que é hora de desacelerar e tirar uma soneca.
O mais curioso é que alguns desses hábitos ocorrem independentemente do que esteja acontecendo ao redor. De acordo com especialistas entrevistados Metrópoles, as manias do sono não acontecem aleatoriamente, elas têm uma explicação científica por trás.
“Em geral, os rituais não são construídos de forma totalmente consciente. Eles surgem pela repetição dentro da rotina até se tornarem automáticos e têm, muitas vezes, uma função emocional, especialmente quando falamos do momento de dormir”, conta a neuropsicóloga Camila de Masi, membro da Academia Brasileira do Sono (ABS). “A hora de dormir pode vir acompanhada de inseguranças, medos e ansiedades”.
Segundo Camila, as manias do sono são muito comuns e acontecem até para quem não tem problemas para dormir. “Os rituais são uma tentativa de criar a sensação de proteção, controle e previsibilidade — ainda que racionalmente saibamos que eles não têm esse poder todo sobre a realidade”, diz a especialista.
Mesmo sendo um momento íntimo e de escolha individual, é importante estar atento ao hábito que você está acostumando o organismo a ter. Por exemplo, o excesso de telas antes de deitar ou na cama é algo prejudicial e, ao invés de ajudar, torna-se um “vilão” do descanso de qualidade.
Quando o ritual do sono vira um sinal de alerta
Apesar de parecerem inofensivos, os rituais também podem gerar dependência. Se um sono de qualidade passa a ser dependente da realização de determinado hábito, é hora de ligar o sinal de alerta, pois isso pode ser um sintoma clássico de rigidez cognitiva – dificuldade em adaptar pensamentos, comportamentos e mudanças na rotina.
“Rotinas de sono são poderosas para enviar sinais ao cérebro de que é hora de desligar, mas se tais hábitos se tornam repetitivos e rígidos além do necessário, podem ser interpretados como sinal de ansiedade, medo de dormir e em casos mais extremos, como compulsão”, alerta a psicóloga Letícia Alves, do Grupo Reinserir, em São Paulo.
Em casos extremos, quando existe uma grande dificuldade de resistir à realização do ritual, o comportamento pode ser um sinal de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). “Pensamentos ansiosos como “se eu não fizer isso, não durmo de jeito nenhum” ou “se eu não fizer desse jeito, algo ruim vai acontecer” fortalecem o hábito, pois a pessoa não tem coragem de contrariar a própria regra”, diz Camila.
A conclusão dos especialistas é clara: alguns rituais realmente ajudam a dormir, porém eles nunca devem se tornar o “ator principal” na hora de deitar e sim um fator secundário para ter uma noite de descanso saudável e de qualidade.
Como construir uma rotina de sono saudável
Para quem busca uma noite de sono bem dormida, é essencial realizar a higiene do sono, um conjunto de práticas que auxiliam na construção de uma rotina diurna e noturna saudável. Entre as principais recomendações estão:
- Ter horários regulares para despertar e dormir, inclusive aos finais de semana;
- Evitar atividades estimulantes antes de dormir, como malhar pesado;
- Não dormir no sofá para não transmitir mensagens contraditórias ao cérebro;
- Evitar dormir com fome ou após fazer refeições pesadas;
- Manter um ambiente adequado para descansar, com temperatura confortável, escuridão e silêncio.
Quando aliadas a essas práticas, as manias do sono podem ajudar a promover relaxamento e potencializar um descanso de qualidade. O importante é escolher rituais que tragam conforto e favoreçam a chegada do sono, além de evitar atividades que interfiram diretamente na soneca.
“Não existe uma fórmula mágica de rotina de sono que funcione para todas as pessoas. O que importa é a função do ritual: promover relaxamento, diminuir a atividade mental e sinalizar o fim do dia”, afirma a neuropsicóloga.
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