A chupeta costuma dividir opiniões entre famílias e profissionais de saúde. Parte dos cuidadores vê no acessório uma forma rápida de acalmar o bebê, enquanto outra parcela tem receio de alterações dentárias, prejuízos na fala e interferências na amamentação.
A verdade é que a questão não é só usar ou não usar a chupeta, mas entender como, quando e por quanto tempo. A sucção não nutritiva faz parte do comportamento fisiológico do bebê e, em muitos casos, ajuda a reduzir o choro, favorecer o início do sono e trazer conforto em situações de estresse.
Entretanto, quando o hábito se prolonga além do recomendado ou substitui funções naturais, como mamar ou acomodar a língua no palato, a chupeta deixa de ser auxiliar e passa a causar efeitos que vão se acumulando ao longo do tempo.
Quando a chupeta realmente ajuda?
Para alguns bebês, o acessório pode atuar como um recurso de auto regulação emocional — desde que introduzido somente após a amamentação estar bem estabelecida. Nesses casos, ajuda a acalmar, organizar o comportamento e oferece segurança em momentos de desconforto.
Em ambientes hospitalares, também pode ajudar na organização neurológica de prematuros, reduzir desconforto em procedimentos dolorosos e diminuir o estresse durante internações.
“A sucção não nutritiva pode ser útil inclusive durante exames e vacinas, pois reduz a ansiedade e ajuda o bebê a manter um padrão fisiológico mais estável”, explica a médica Maria da Glória Neiva, responsável pelo Serviço de Pediatria do Hospital Vitória Barra, da Rede Américas.
Já no dia a dia, o uso pontual costuma diminuir o tempo de choro e facilitar o início do sono no primeiro ano de vida. Porém, é importante que a chupeta não seja o único recurso para o bebê adormecer, porque a dependência pode favorecer despertares frequentes durante a noite, explica a pediatra.
Riscos associados ao uso prolongado de chupeta
O uso prolongado da chupeta expõe o bebê a alterações na arcada dentária e no desenvolvimento da face. Isso ocorre porque a pressão constante do acessório modifica o formato do palato, favorece desalinhamentos e reduz o espaço natural da língua.
A musculatura também passa a trabalhar de forma diferente, já que o hábito repetido da sucção cria padrões que não se reorganizam com facilidade. A odontopediatra Ilana Guimarães, da clínica IGM Odontologia para Família, em Brasília, destaca que o impacto envolve toda a dinâmica funcional da boca.
“A chupeta usada por longos períodos faz com que a língua perca espaço para exercer a sua função, a respiração se altera e a arcada se adapta a essas forças externas. Com o tempo, esse desequilíbrio se torna visível no formato do palato e no alinhamento dos dentes”, afirma IIana.
Existem vários efeitos observados em bebês e crianças que mantêm o hábito por tempo além do recomendado. Dentre eles, destacam-se:
- Mordida aberta que impede o encontro dos dentes da frente.
- Palato mais estreito e alto.
- Dentes superiores projetados para a frente.
- Respiração pela boca.
- Deglutição inadequada, com esforço ou ruídos.
- Mastigação menos eficiente.
- Distorções de fala, principalmente em sons que dependem da posição correta da língua.
- Língua constantemente baixa, o que reforça o desequilíbrio muscular.

Chupeta e amamentação
Outro ponto importante é que a introdução da chupeta antes das três a quatro semanas de vida pode atrapalhar a forma como o bebê abocanha o seio para mamar. A sucção no peito exige movimentos específicos da língua e da boca, diferentes dos usados na chupeta.
Essa confusão reduz a eficiência da amamentação, diminui a produção de leite e aumenta o risco de desmame precoce. Além disso, a chupeta funciona como vetor de microrganismos. Por isso, quando não é lavada de forma adequada, pode favorecer otites e outras infecções que são recorrentes.
Quando iniciar o desmame da chupeta?
O período considerado mais seguro para iniciar a retirada está entre 6 meses e 1 ano. Manter o objeto após os 2 anos amplia as alterações dentárias e os prejuízos na fala. Acima dos 3 anos, as mudanças na arcada ficam mais evidentes e costumam exigir tratamento especializado.
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