Um estudo internacional publicado nesta quarta-feira (27/8) na revista Nature Climate Change alerta que a perda de florestas tropicais no mundo pode ser responsável por 28.330 mortes a cada ano. A pesquisa, que conta com a co-autoria de Beatriz Oliveira, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), indica que o desmatamento aumenta o calor em níveis que podem ser mortais para muitas pessoas.
A investigação analisou o impacto da perda de áreas de vegetação na América Central e do Sul, África e Sudeste Asiático entre 2001 e 2020. No período, 345 milhões de pessoas foram expostas ao calor adicional provocado pela derrubada de árvores. O aumento médio foi de 0,27 °C, o suficiente para elevar riscos à saúde.
Leia também
-
Inpe: desmatamento sobe 4% na Amazônia e reduz 21% no Cerrado
-
Estudo revela queda de 18% no desmatamento da Amazônia em junho
-
Pará registra menor área sob alerta de desmatamento desde 2019
-
Desmatamento da Amazônia eliminou 60% mais aves do que o estimado
Usando dados de satélite, os pesquisadores mapearam áreas de mudança na cobertura de plantas para identificar a perda de florestas nos trópicos e a subsequente mudança na temperatura da terra nessas áreas.
Eles compararam dados de distribuição da população humana para mapear a exposição ao aquecimento local causada pelo desmatamento. Os resultados foram confrontados com dados sobre óbitos não acidentais para estimar o excesso de mortalidade atribuível ao calor associado ao aquecimento.
Desmatamento cresce, calor também
A pesquisa mostrou que 1,6 milhão de km² de cobertura florestal desapareceram em duas décadas. O desmatamento foi maior nas Américas tropicais, seguido pelo Sudeste Asiático e pela África. Nessas áreas, a elevação térmica chegou a 0,70 °C, três vezes acima da média. Isso ocorre porque, sem as árvores, há aumento da temperatura, redução da umidade e aumento da concentração de gases causadores do efeito estufa.
O impacto maior se concentrou no Sudeste Asiático, com até 11 mortes por 100 mil habitantes em regiões desmatadas, mas o efeito também foi significativo na África e nas Américas. Em algumas áreas, mais de um terço das mortes por calor atribuídas às mudanças climáticas tiveram relação direta com o desmatamento.
“O estudo mostra que os efeitos na saúde dependem da intensidade do aquecimento local induzido pelo desmatamento e da vulnerabilidade da população que reside nas áreas que foram desmatadas. Muitos trabalhadores rurais do Cerrado brasileiro, por exemplo, acabam sofrendo problemas de saúde com as consequências dessa perda”, explica a pesquisadora e coautora do estudo Beatriz Oliveira, da Fiocruz Piauí, em entrevista ao Metrópoles.
Calor excessivo compromete o funcionamento do sistema cardiovascular e pode levar à morte também por desidratação
Vidas em risco nas áreas tropicais
O estudo indica que 452 milhões de pessoas vivem em áreas afetadas pela derrubada de florestas. Destas, 33 milhões enfrentaram aumentos de temperatura acima de 1 °C, e 2,6 milhões chegaram a sentir elevação superior a 3 °C.
A África tropical lidera em número de pessoas expostas, com 148 milhões. Em seguida estão o Sudeste Asiático, com 122 milhões, e as Américas Central e do Sul, com 67 milhões. A baixa densidade populacional da Amazônia reduziu a exposição relativa na região.
As consequências incluem queda na produtividade laboral, doenças cardiovasculares e riscos de desidratação. Trabalhadores rurais, pescadores e operários de construção estão entre os mais vulneráveis devido à atividade ao ar livre.
“A redução do desmatamento também é uma questão de saúde pública, pois evitamos mortes por calor e garantimos condições climáticas mais favoráveis para populações em situação de vulnerabilidade”, explica Beatriz.
Por isso, os pesquisadores concluíram que conservar florestas tropicais não é apenas uma política ambiental. É também uma medida imediata para proteger a vida humana e reduzir desigualdades sociais diante do avanço das mudanças climáticas.
Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!
Leave a Reply