O secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite (PP), afirmou ao Ministério Público de São Paulo (MPSP) que fechou um contrato de R$ 151 mil com a empreiteira responsável pela “edificação” da casa de luxo que ele está construindo em Porto Feliz, no interior paulista. O documento do órgão também cita a compra do terreno por R$ 489 mil e não detalha gastos com materiais.
As informações aparecem no documento de arquivamento de apuração, que havia sido pedida pelo deputado estadual Antonio Donato (PT), após reportagem do Metrópoles mostrar que Derrite está construindo uma casa luxuosa em um condomínio fechado na cidade que virou o reduto de milionários em São Paulo.
O arquivamento da investigação foi assinado pelo procurador-geral do Estado, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, chefe do MPSP.
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O construtor da casa afirmou ao Metrópoles que a obra custaria aproximadamente R$ 5,5 mil por metro quadrado. Considerando 440 metros quadrados de área construída, o preço resultaria em um total de pelo menos R$ 2,4 milhões. Até junho, segundo o empreiteiro, a conta estava em R$ 2 milhões.
Já Derrite afirmou ao MPSP que a construção em Porto Feliz se trata de um imóvel unifamiliar de 331 m² com piscina de 34 m² e que a Construtora Mota fechou contrato de R$ 151 mil pela edificação, conforme contrato juntado aos autos.
Construção de casa de Derrite está em fase final
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Imóvel custará ao menos R$ 3 milhões
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Casa de Derrite vista de cima
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Projeto arquitetônico prevê uma piscina retangular no jardim
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Casa terá pelo menos R$ 140 mil em madeira Cumaru
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Imóvel contará com porcelanato de 1,2 m por 1,2 m
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Derrite visita construção semanalmente
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Imóvel fica localizado em um condomínio de alto padrão em Porto Feliz (SP)
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Porto Feliz se tornou reduto dos bilionários no interior do estado
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Condomínio conta com piscina olímpica, quadras de tênis e um grande lago
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Terreno foi adquirido em junho de 2023, por R$ 475 mil
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Hoje, terrenos do mesmo tamanho são vendidos por R$ 600 mil
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“O pagamento foi realizado por meio de parcelas mensais de R$ 11.600,00, sendo ajustada a primeira prestação com vencimento em 20/03/2024 e a última com vencimento em 20/08/2025, tendo sido demonstrado que esses pagamentos foram realizados tanto por Guilherme Muraro Derrite como por sua mulher, Iara Maria de Oliveira, em favor de Genilton Mota Siqueira”, diz o documento.
O documento não cita se houve algum intervalo maior que de um mês entre os pagamentos, uma vez que os valores mensais entre março de 2024 e agosto de 2025 totalizariam R$ 208 mil, em vez de R$ 151 mil.
A manifestação de arquivamento também não especifica outros valores além da edificação e do terreno. Sobre os materiais de construção, apenas cita que Derrite “apresentou comprovação de que vem adquirindo os materiais utilizados na construção do imóvel” e também que “os valores incorporados na edificação estão sendo devidamente declarados no imposto de renda, observado o regime de comunhão parcial de bens no qual é casado”.
Na justificativa ao MPSP, o secretário afirmou que o terreno foi adquirido por R$ 489 mil e, com as benfeitorias realizadas em 2024, o bem foi declarado por R$ 680 mil. O documento diz que Derrite ganha R$ 70 mil por mês e sua mulher, R$ 29,5 mil, o que daria lastro aos gastos com o imóvel.
As afirmações de Derrite destoam do que disse o construtor Genilton Mota à reportagem do Metrópoles, que se passou por interessado em contratar seus serviços. Além de estimar custo e metragem maior, o profissional citou que alinhava os pagamentos com o empresário Guilherme Moron, amigo de Derrite.
O procurador-geral do Estado, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, chefe do MPSP, cita apenas explicações de Derrite, sem mencionar ter ouvido os demais citados. “Não se coletaram indícios de improbidade administrativa catalogada no artigo 9º, inciso VII, da Lei nº 8.429/92, na medida em os esclarecimentos prestados pelo representado foram suficientes para desautorizar a incidência de referido preceito legal, rechaçando a ocorrência de enriquecimento ilícito pela aquisição de bens incompatível à evolução do patrimônio ou renda, pois, logrou demonstrar sua origem lícita”, afirmou.
Pelo menos R$ 2 milhões
Em 23 de junho, o Metrópoles conversou com o empreiteiro responsável pela obra da casa de Guilherme Derrite. Por telefone, Genilton Mota, da Construtora Mota, disse que, até aquele momento, o valor da construção estava em aproximadamente R$ 2 milhões.
“É, 2,7… até esses tempos atrás eu tava conversando de gasto lá, tava em uns 2, mas material e mão de obra tava comprando tudo, porcelanato, esquadrilha, já comprou tudo”, disse Genilton à reportagem, que se passou em pessoa interessada em contratar os serviços da empresa.
“Eu tô percebendo que vai chegar ali nuns 5 mil, até 6 mil reais o metro quadrado, 5,5. Mas num padrão bem bom, né. A casa dele é padrão alto. Assim, lá em cima é tudo madeira”, acrescentou.
Segundo o empreiteiro, a construção contará com R$ 150 mil em madeira amazônica, do tipo cumaru, equivalente ao valor declarado pelo secretário para toda a “edificação”.
“Tá faltando só comprar as torneiras mesmo e a madeira. De madeira ficou 140 mil de madeira. Porque do assoalho às portas é tudo de madeira tudo cumaru, deck em volta da piscina. Então, toda madeira está ficando na casa dos 150 mil”, disse Genilton.
O que diz a SSP
“Todas as aquisições patrimoniais realizadas por Guilherme Derrite e por sua família são plenamente compatíveis com a renda declarada ao longo de sua trajetória, fruto de cerca de 20 anos de trabalho e economia familiar. Todos os bens foram adquiridos com recursos próprios e dentro da legalidade, conforme registrado junto às autoridades competentes.
O terreno onde está sendo construída a casa mencionada pela reportagem foi comprado com recursos obtidos pela venda de um apartamento na zona oeste de São Paulo, após término de financiamento imobiliário de dez anos. A construção do imóvel em Porto Feliz, cidade de origem da esposa de Derrite, começou no primeiro semestre de 2024 e vem sendo executada de forma gradativa, assim como os investimentos realizados na obra.
“É incorreta a associação direta do valor mencionado à casa em construção, pois esse montante corresponde a imóveis já prontos no mesmo condomínio, não refletindo o estágio atual e o custo total da obra em andamento. Também é importante mencionar que a casa não está localizada em um condomínio de altíssimo padrão, conhecido na região, como dá a entender a reportagem, mas sim em um condomínio localizado na área urbana da cidade.”
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