Mesmo levando um estilo de vida saudável, a enfermeira Thaís Cecilio, de 38 anos, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) aos 33. Há cinco anos, na madrugada de 26 de outubro, Thaís sentiu fortes dores de cabeça enquanto pensava nos problemas de trabalho. À época, a enfermeira comandava uma equipe com quase 100 pessoas.
Ao procurar um hospital, ela chegou andando e se comunicando normalmente, mas logo perdeu os movimentos e desmaiou. Mesmo jovem e com bons hábitos físicos e alimentares, a carioca sofreu um AVC hemorrágico — um rompimento de veia no cérebro. Até hoje a causa da ocorrência não foi identificada. No entanto, além do estresse com o trabalho, sua família tinha histórico de AVC isquêmico.
Ao todo, a enfermeira passou por duas cirurgias no crânio, ficando 43 dias internada. “Foi um momento muito difícil para minha família e amigos, e, principalmente, para mim. Mas todos se uniram para me apoiar e me dar forças”, conta a carioca.
Inicialmente, a condição afetou a fala e alguns movimentos de Thaís. Depois de passar por vários tratamentos, incluindo fisioterapia e fonoaudiologia, ela recuperou a capacidade de comunicação e locomoção, mas ainda tem dificuldade com uma das mãos.
“O AVC não tem o poder de me parar. Eu não sou o AVC. Sempre dá tempo de correr atrás para melhorar nossa qualidade de vida”, afirma.
AVC em jovens
De acordo com a neurologista Thaís Augusta Martins, especialista em AVC, mesmo sendo mais comum em idosos, a condição também pode acometer jovens. “Quando isso ocorre, geralmente existe uma causa subjacente, como uma doença reumatológica, alguma alteração cardíaca ou histórico familiar ”, diz a coordenadora de neurologia do Hospital Santa Lúcia, em Brasília.
Em casos de problemas pré-existentes, o tratamento é realizado de forma preventiva para controlar as comorbidades e diminuir o risco de AVC.
Segundo a médica, a idade não altera os sinais de alerta. A qualquer suspeita, os protocolos médicos internacionais recomendam utilizar a técnica SAMU e procurar uma emergência com urgência:
- S de sorriso: peça para o paciente sorrir e veja se a boca fica torta;
- A de abraço: peça para levantar os dois braços e observe se um deles não levanta;
- M de música: peça para repetir um trecho de uma música e veja se há dificuldade para falar;
- U de urgente: se algum desses sinais estiver presente, é preciso agir imediatamente e levar o paciente a um serviço de saúde.
Para prevenir a doença vascular, especialistas recomendam levar um estilo de vida saudável, independente da idade, incluindo evitar o tabagismo, o uso abusivo de álcool, controlar diabetes e pressão alta, além de manter bons hábitos, como alimentação equilibrada e prática regular de atividade física.
“Hoje, o AVC é a principal causa de morte no Brasil. Por isso, é essencial que a população esteja atenta aos sinais de alerta e adote medidas preventivas o quanto antes”, ressalta a neurologista.
“Vida normal dentro nova realidade”
A carioca ficou em coma por uma semana. Ao acordar, Thaís estava com o lado direito paralisado e dificuldade para falar. A capacidade de comunicação retornou aos poucos e as “primeiras palavras” vieram de forma curiosa: ela não conseguia falar, mas era capaz de cantar trechos de música.
“Sempre fui muito musical. Acho que o meu cérebro fez essa correlação para eu conseguir voltar a me comunicar”, diz.
Durante a internação, as sessões de fonoaudiologia ajudaram no retorno da comunicação. Recuperada, ela teve alta da fono um ano e meio depois do AVC. Após a alta hospitalar, Thaís fez vários tratamentos, incluindo terapia ocupacional, neuromodulação, judô e natação.

O retorno dos movimentos foi gradual: a perna respondeu primeiro, mas o braço ainda apresenta algumas limitações.
“Ainda não consigo fazer algumas coisas. Por exemplo, consigo segurar um copo fino, mas não um mais grosso. Porém, consigo escovar os dentes e comer de garfo e faca. Hoje, considero que levo uma vida normal dentro da minha nova realidade”, relata Thaís.
Atualmente, a enfermeira segue acompanhamento anual com o neurologista e a única medicação que toma é um anticonvulsivo.
Influenciando outras pessoas
Durante a reabilitação, a carioca passou a postar vídeos em seu perfil pessoal e, sem planejar, acabou virando influencer digital: as postagens ultrapassaram a “bolha” dos amigos e chegando ao grande público.
“Me sinto muito feliz e grata em poder ajudar as pessoas, mesmo que de longe. Já recebi mensagens de pessoas dizendo que estavam depressivas e meus vídeos ajudaram a levantar da cama. Isso me dá força para continuar lutando”, afirma Thaís.
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