Pouco mais de três anos e sete meses se passaram desde que o país parou para comentar o caso envolvendo um morador de rua, uma mulher em surto psicótico e um personal trainer. O episódio, ocorrido em Planaltina, em março de 2022, foi filmado, divulgado e transformado em um dos temas mais debatidos do ano. Atualmente, longe do escândalo e das câmeras, Givaldo Alves, que ficou conhecido como o “mendigo do amor”, Sandra Mara Fernandes e Eduardo Alves vivem realidades muito distintas, algumas mais públicas, outras mergulhadas no anonimato.
De protagonista involuntária de um caso que abalou sua vida pessoal, a influenciadora digital trabalha atrás de um volante, como motorista de aplicativo. Sandra reconstruiu sua imagem diante de quem a acompanha nas redes. Atualmente, com pouco mais de 300 mil seguidores no Instagram, ela divide momentos do dia a dia pelas ruas do Distrito Federal, dirigindo para plataformas de transporte por aplicativo e publicando conteúdos sobre empoderamento feminino, recomeço e fé.
Nos stories, ela costuma falar sobre independência e superação. Em um vídeo publicado nessa quinta-feira (23/10), Sandra afirmou que pretende “ficar sozinha” e que não está “à procura de machos”. O tom é de afirmação pessoal — e de quem busca afastar-se da polêmica que a marcou.
Veja imagens de Sandra afirmando não “querer macho”:
Recomeço
Separada de Eduardo Alves, ela parece ter encontrado nas redes sociais uma forma de sustento e voz. “Não tenho vergonha de recomeçar”, diz em uma das postagens. Entre corridas, selfies e publis, Sandra constrói uma narrativa de mulher comum tentando seguir a vida após o turbilhão.
Já o personal trainer Eduardo Alves, que protagonizou uma das cenas mais chocantes de 2022 ao agredir Givaldo Alves ao flagrar o encontro no carro com sua esposa, escolheu um caminho diferente. Menos ativo nas redes sociais e longe dos holofotes, ele refez a vida ao lado de outra mulher, colega de trabalho em uma academia.
Na época da polêmica, Eduardo chegou a ser indiciado por lesão corporal, uma vez que as câmeras de segurança mostraram a agressão contra o então morador de rua. O caso teve grande repercussão e colocou o personal sob intenso escrutínio público — algo que, ao que tudo indica, ele prefere deixar para trás.
Fama e desaparecimento
Nenhum dos três personagens viveu transformação tão abrupta quanto Givaldo Alves, o ex-morador de rua que ganhou projeção nacional após o episódio. Em poucos dias, ele passou de anônimo a figura conhecida, presença constante em programas de TV, podcasts e eventos. Chegou a desfilar em camarotes badalados do Carnaval carioca, foi visto dirigindo carros importados e ganhou apelidos como “Mendigo do amor”.
Mas o brilho foi breve. Pouco tempo depois, Givaldo apagou suas redes sociais e sumiu da mídia. Fotos tiradas há cerca de dois anos o flagraram andando por Ceilândia com uma sacola de compras ao lado de uma mulher. Desde então, não há registros de sua localização ou atividade.
Antes da fama, Givaldo já havia tido passagens pela polícia — inclusive uma condenação por sequestro em 2004. Após o caso de 2022, chegou a responder por difamação, em razão das entrevistas em que detalhava o ocorrido com Sandra. Apesar de ter tentado transformar a notoriedade em oportunidades, sua trajetória pública terminou de forma silenciosa, e o “ex-mendigo mais famoso do país” parece ter retornado ao anonimato.
Relembre a entrevista exclusiva de Givaldo ao Metrópoles:
Relembre o caso
Na noite de 9 de março de 2022, Givaldo Alves foi flagrado dentro do carro de Sandra Mara Fernandes, então esposa do personal trainer Eduardo Alves, em uma rua de Planaltina. Ao se deparar com a cena, Eduardo reagiu com violência, acreditando se tratar de um estupro, e agrediu o morador de rua.
As imagens das agressões circularam nas redes sociais e chocaram o país. O caso mobilizou a polícia, psicólogos e milhões de internautas. Dias depois, laudos médicos apontaram que Sandra estava em surto psicótico decorrente de transtorno afetivo bipolar no momento do episódio.
Na época, Givaldo, em entrevista ao Metrópoles, afirmou que a relação foi consensual e que havia sido convidado por ela a entrar no carro. “Eu andava pela rua e ouvi um grito: ‘Moço, moço’. Olhei para trás e só tinha eu. E ela confirmou comigo dizendo: ‘Quer namorar comigo?’”, contou na época. “Não cometi estupro. Deus me colocou em um lugar cercado por câmeras que comprovam isso”, declarou na ocasião.
Julgamento e fama
O caso virou tema nacional não apenas pelo escândalo, mas pelos debates sobre vulnerabilidade social, saúde mental e o poder destrutivo da fama instantânea. Atualmente, Sandra dirige e influencia, Eduardo se recolheu e recomeçou, e Givaldo desapareceu da vida pública.
Três destinos que refletem diferentes formas de lidar com a exposição — e que revelam como um episódio de poucos minutos foi capaz de mudar vidas inteiras. O caso de Planaltina continua sendo lembrado como uma história sobre como a sociedade lida com a dor, o julgamento e a fama.
No fim, os três personagens deixaram uma mesma lição: a de que, depois que a internet vira os holofotes sobre alguém, nunca mais a vida volta a ser a mesma.