
A mistura de chá de camomila, maracujá e limão, o “chá japonês”, ganhou destaque nas redes sociais após relatos de pessoas que afirmam dormir melhor após tomar a bebida. A receita viralizou com a promessa de induzir o relaxamento e aliviar o estresse antes de dormir. Mas, será que o efeito calmante tem base científica ou é apenas resultado do ritual de preparo?
Segundo especialistas ouvidos pelo Metrópoles, a sensação de bem-estar pode ser explicada tanto por substâncias presentes nas ervas quanto pelo contexto em que o chá é consumido. O hábito de tomar algo quente, em um ambiente tranquilo e com luzes suaves, já contribui para sinalizar ao corpo que é hora de desacelerar.
O que a ciência diz sobre a mistura de chá japonês
Entre os três ingredientes, camomila e maracujá são os principais responsáveis pelo efeito relaxante. As plantas contêm compostos como flavonoides e alcaloides que interagem com o sistema nervoso central, especialmente com receptores do tipo GABA — os mesmos afetados por medicamentos ansiolíticos. Essa ação diminui a atividade dos neurônios, deixando o cérebro em um estado favorável ao repouso.
“O chá pode ser um suporte leve, mas não substitui uma rotina saudável de sono. Criar horários regulares, evitar telas à noite e reduzir estimulantes, como café, são medidas muito mais eficazes para dormir bem”, explica Murillo Monteiro, médico nutrólogo do Instituto Mutare, em São Paulo.
Estudos indicam que a camomila pode diminuir sintomas de ansiedade e melhorar discretamente a qualidade do sono em alguns grupos, como mulheres no pós-parto. Algumas pesquisas apontam ainda que o maracujá, em especial suas folhas e flores, melhora o sono e o estresse — porém, ainda faltam ensaios clínicos mais amplos.
A polpa, usada em muitas receitas caseiras, contém quantidades bem menores dessas substâncias. Já o limão não tem função calmante, mas também não interfere nos efeitos das ervas. Sua presença na mistura serve mais para dar sabor e fornecer vitamina C.
Efeito psicológico do chá japonês
Além dos compostos bioativos, há um componente psicológico importante no consumo do chá. O ritual de preparar a bebida, reduzir o ritmo e se afastar de telas antes de dormir estimula naturalmente o relaxamento. Essa rotina reforça os sinais que o cérebro associa ao descanso e pode potencializar a sensação de tranquilidade.
“Parte do efeito vem das substâncias das ervas, mas outra parte está ligada à percepção de pausa e conforto que o momento proporciona. O cérebro interpreta esse gesto como um sinal de segurança, o que favorece o relaxamento”, explica a nutricionista Natashe Nassif, de São Paulo.

Como preparar o chá japonês em casa
Para uma xícara, use de duas a três gramas de flores secas de camomila e uma a duas colheres de polpa de maracujá, em infusão tampada por até dez minutos. Acrescente rodelas ou algumas gotas de limão apenas depois do preparo. O ideal é tomar de 30 a 60 minutos antes de dormir, em um ambiente calmo e com luz suave.
Cuidados e contraindicações do chá japonês
O uso das plantas deve ser feito com atenção, uma vez que a camomila pode causar reações alérgicas em pessoas sensíveis e interagir com anticoagulantes. A passiflora, composto presente no maracujá, pode intensificar o efeito de remédios sedativos e de alguns ansiolíticos.
Gestantes e pessoas com pressão baixa devem evitar o consumo sem orientação médica. Além disso, vale lembrar que o chá não substitui tratamentos para distúrbios do sono. Ele pode ser um aliado leve dentro de uma rotina saudável, que inclua horários regulares para dormir, alimentação equilibrada e limitação do uso de telas à noite.
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