
A doação de órgãos permite que pessoas com doenças graves recebam uma nova chance de viver. A fila de espera dessa oportunidade no Brasil tem atualmente 73 mil pacientes e mais da metade deles aguarda por um rim. A espera é fruto dos muitos entraves para o transplante de órgãos, sendo que o maior deles é encontrar um doador compatível.
O primeiro passo para testar a compatibilidade é avaliar se os tipos sanguíneos do doador e receptor são afins, mas um novo estudo pode mudar este cenário e tornar a fila de espera menor. Cientistas canadenses conseguiram converter um rim humano do tipo sanguíneo A em um do tipo O e o transplantaram em um paciente com morte cerebral para estudar os resultados.
O procedimento foi detalhado em um estudo publicado nesta sexta-feira (3/10), na revista Nature Biomedical Engineering. O órgão funcionou por dois dias antes de sinais de rejeição aparecerem, um intervalo precioso de tempo neste avanço médico, já que a rejeição costuma ser imediata em pessoas com sangue incompatível.
A técnica utiliza enzimas, proteínas que aceleram reações químicas, para remover antígenos das células sanguíneas que desencadeiam a rejeição. O processo, chamado ECO, transforma órgãos em potenciais doadores universais e abre caminho para reduzir a longa espera em listas de transplantes.
Além do rim, serve para outros órgãos?
“O processo ECO já foi experimentado em pulmões. Esperamos que ele funcione para todos os outros órgãos, e deve funcionar pelo que pudemos observar. Os órgãos não serão reconhecidos nem atacados pelos anticorpos anti-A presentes na corrente sanguínea do receptor”, explica bioquímico Stephen Withers, da Universidade de British Columbia, no Canadá.
O transplante renal é feito desde os anos 1950, mas enfrenta obstáculos. Além da necessidade de compatibilidade entre doador e receptor, o órgão precisa ter tamanho adequado e chegar em boas condições até o centro cirúrgico. O tempo de transporte também é um fator crítico para o bom funcionamento.
Compatibilidade de sangue
O corpo humano possui quatro grupos sanguíneos principais: A, B, AB e O. Cada um é definido por antígenos que ativam respostas imunes. Quem tem sangue tipo O só pode receber doadores O, enquanto pessoas com outros tipos também aceitam O, considerado universal por não carregar imunógeno. Pessoas com o fator negativo são ainda mais raras.
“Apenas cerca de 15% da população possui sangue Rh negativo, sendo que o tipo O- representa de 8% a 9%, o que contribui para a escassez frequente desse tipo de sangue até em bancos de sangue e a insistência para que pessoas desta tipagem façam doações frequentes”, explica Fabio Lino, diretor do Serviço de Hemoterapia do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE).
Mais da metade dos pacientes em listas de espera possui sangue tipo O. Esses candidatos aguardam de dois a quatro anos a mais que os outros por compatibilidade. A conversão de órgãos pode reduzir esse desequilíbrio e ampliar as chances de transplante em escala global.
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