
Um levantamento global projeta que as mortes por câncer podem crescer 75% até 2050. O estudo, divulgado por um grupo de quase 3 mil cientistas, aponta que o total de óbitos deve ultrapassar 18 milhões em meados deste século.
Os dados foram divulgados na revista The Lancet na quarta-feira (24/9). Foram analisadas as curvas de crescimento de 47 tipos de câncer em 204 países entre 1990 e 2023, ano em que 10,4 milhões de mortes foram registradas. Os cientistas estimam padrões parecidos de curva de aumento para 2023 a 2050.
O aumento observado nos últimos anos e projetado para o futuro, segundo os autores, reflete mudanças demográficas, envelhecimento populacional e desigualdades no acesso à saúde. O tabaco contribuiu para 21% das mortes por câncer em todo o mundo. O sexo desprotegido foi associado a 12,5% de todas as mortes por câncer.
A pesquisa revela que os países de baixa e média renda média populacional, como o Brasil, enfrentarão o maior impacto. Nessas regiões, a incidência tende a aumentar em ritmo acelerado devido à transição epidemiológica e ao avanço de fatores de risco, como tabagismo, obesidade e sedentarismo.
Os cientistas alertam que a pressão sobre os sistemas de saúde será intensa. O desafio será ampliar programas de rastreamento, tratamento e prevenção para frear a escalada. Sem isso, a carga da doença pode se tornar insustentável em muitas nações.
Cenário do câncer no Brasil
O Brasil registrou taxa de incidência padronizada de câncer por idade (ASIR) de 153,1 por 100 mil habitantes em 1990. Em 2023, o índice subiu para 162,1, um aumento de 5,9%. No mesmo período, a taxa de mortalidade (ASMR) caiu de 120,2 para 101,2, uma redução de 15,8%.
Apesar da queda na mortalidade proporcional, o número absoluto de casos tende a crescer devido ao envelhecimento da população. Entre os tipos de câncer mais letais no Brasil, com previsão de seguirem causando muitas mortes, os pesquisadores destacam:
- Traqueia, brônquios e pulmão, com 13,9 mortes por 100 mil habitantes;
- Cólon e reto (intestino), com 11,5 mortes para o mesmo número de brasileiros;
- Estômago, com 8,7;
- Mama, com 8,6;
- Próstata, 8,0.
Avanços e desigualdades
O estudo indica que, globalmente, avanços médicos já reduziram taxas de mortalidade ajustadas por idade. Ainda assim, o crescimento populacional e o envelhecimento anulam parte do progresso. A tendência é que o número absoluto de mortes continue a subir.
Pesquisadores ressaltam que o acesso desigual a diagnósticos precoces e tratamentos modernos amplia disparidades entre países. Enquanto regiões desenvolvidas avançam no controle de alguns tumores, áreas mais vulneráveis enfrentam limitações severas.
Os autores defendem políticas globais integradas. Ações coordenadas poderiam incluir restrição ao consumo de tabaco, incentivo à alimentação saudável, estímulo à atividade física e fortalecimento dos sistemas de saúde.
“Com quatro em cada 10 mortes por câncer associadas a fatores de risco estabelecidos, incluindo tabaco, má alimentação e altos níveis de açúcar no sangue, há enormes oportunidades para os países combaterem esses fatores de risco, potencialmente prevenindo casos de câncer e salvando vidas, além de melhorar o diagnóstico e o tratamento precisos e precoces para apoiar indivíduos que desenvolvem câncer”, disse o coautor do estudo e um dos líderes do grupo, o médico Theo Vos, do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME) da Universidade de Washington, nos Estados Unidos.
“Reduzir a carga do câncer em todos os países e no mundo exige ações individuais e abordagens eficazes em nível populacional para reduzir a exposição a riscos conhecidos”, concluiu ele em comunicado a imprensa.
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