Pessoas trans costumam fazer uma série de intervenções médicas que combinam tratamentos hormonais com intervenções cirúrgicas para alinhar a aparência corporal do indivíduo com o gênero que ele se identifica.
Nesse processo, as cirurgias que mais despertam curiosidade são as de redesignação sexual, também conhecida como cirurgia genital afirmativa de gênero. Existem dois tipos principais de procedimento: feminizante e masculinizante. A primeira, feita por mulheres trans, transforma uma genitália originalmente masculina em feminina, e o segundo grupo faz o oposto para os homens trans.
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Poucas cirurgias feitas
No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece os procedimentos desde 2008, mas o acesso ainda é limitado. Apenas dez hospitais no país estão habilitados para realizar a cirurgia e as filas de espera podem ultrapassar dez anos, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).
Além disso, a própria população trans parece ter pouco interesse no procedimento, seja por sua alta complexidade (e chances de complicação), seja por não ter disforia genital, uma relação de repulsa em relação ao órgão sexual biológico.
“Nenhuma pessoa trans precisa de cirurgia para ser trans. A indicação ocorre quando há disforia genital, um mal-estar profundo em relação ao próprio corpo”, explica o cirurgião plástico Jose C. Martins Junior, de Blumenau (SC), uma das referências nacionais nesse tipo de procedimento.
Em dezembro, Martins se tornou o primeiro médico brasileiro a fazer uma cirurgia de redesignação genital com braços robóticos. Apesar da crescente segurança e melhores resultados dos procedimentos nos últimos anos, ele ainda estima que apenas 5% das pessoas trans que buscam seu consultório têm interesse na redesignação genital.
O urologista Ubirajara Barroso Jr, coordenador da disciplina de urologia e da divisão de cirurgia reconstrutora urogenital da Universidade Federal da Bahia (UFBA), afirma que os pacientes interessados sempre são informados dos riscos e da irreversibilidade dos procedimentos antes de bater o martelo em relação à cirurgia.
“Esses procedimentos transformam vidas, mas exigem decisões informadas e acompanhamento especializado. A decisão deve ser tomada com acompanhamento médico e psicológico adequado para garantir o bem-estar físico e mental dos pacientes, mas é inegável que boa parte dessa população ainda enfrenta barreiras ao buscar atendimento médico devido ao medo de preconceito e discriminação”, alerta.
Como é feita a redesignação sexual?
Antes de qualquer intervenção, é exigido acompanhamento mínimo de um ano, durante o qual uma equipe multiprofissional avalia a saúde física e mental do paciente. Doenças como hipertensão e diabetes precisam estar controladas.
A cirurgia de redesignação, se for pedida pelo paciente, costuma ser realizada como fase final do tratamento, depois de terapias hormonais necessárias para algumas adaptações anatômicas, especialmente nos procedimentos de feminino para masculino.
Veja como é feito o passo a passo de cada procedimento:
Neovaginoplastia
Para mulheres trans, o procedimento usado é a neovaginoplastia, que utiliza parte da pele do pênis e do escroto para criar a neovagina. Um dos maiores desafios do procedimento é preservar os nervos sensoriais para garantir a sensibilidade da paciente.
Um neoclitóris é confeccionado a partir da glande, mantendo irrigação e inervação. “Quando não há pele suficiente, pode-se usar o intestino grosso, com bons resultados e sensibilidade erógena”, explica o urologista.
A recuperação dura cerca de dois meses, e a fisioterapia pélvica é essencial para prevenir complicações como estreitamento vaginal ou dor durante relações sexuais. “Ela fortalece músculos e ligamentos, melhorando a função e o conforto”, destaca a fisioterapeuta Laura Barrios, da Clínica Ginelife.
Arte/Metrópoles
Arte/Metrópoles
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A neovagina costuma ter aproximadamente 15 centímetros de profundidade, mas procedimentos mais modernos como a cirurgia robótica podem abrir espaços mais fundos, de até 22 centímetros. Neste caso, se usa parte do peritônio, membrana que reveste a parede abdominal, implantada na cavidade vaginal.
“A estética permanece a mesma, porém, ela acaba se tornando uma vagina mais profunda. A técnica robótica é muito usada em pacientes que tem pouca pele no pênis, ou já tiveram complicações em outras cirurgias e precisam refazer o procedimento”, complementa Martins.
Metoidioplastia
A metoidioplastia é uma técnica menos invasiva para homens trans que utiliza o clitóris desenvolvido com o uso de testosterona como base para o neopênis. O procedimento envolve a retificação do órgão e a criação de uma nova uretra, frequentemente com tecido da face interna da boca, o que evita cicatrizes externas.
A vantagem da técnica é a preservação da sensibilidade e da ereção, embora o tamanho do falo nem sempre permita penetração. “Neste caso, não é necessária a colocação de próteses e a sensibilidade é totalmente preservada. O que temos tentado é elaborar um corpo cavernoso para o neopênis com fragmentos ósseos, o que permitiria um falo um pouco maior”, diz Ubirajara.
Lara Abreu/Metrópoles
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A internação pós-operatória varia de dois a cinco dias, e o uso de roupas de algodão é recomendado para evitar irritações. O acompanhamento médico é realizado a cada quinzena ou a cada mês.
Faloplastia
A faloplastia é um procedimento mais complexo, que utiliza tecido do antebraço, abdômen ou perna para criar um falo de maior tamanho. A vantagem é a possibilidade de um pênis maior, mas a sensibilidade é reduzida e a ereção só é possível com próteses. “Cerca de 50% dos casos exigem próteses infláveis, e há maior risco de complicações, como estreitamento da uretra”, explica Barroso Jr.
A recuperação é mais longa, e o acompanhamento pós-cirúrgico dura no mínimo seis meses. Apesar dos desafios, a faloplastia é uma opção para quem busca um resultado mais próximo da anatomia masculina tradicional.
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