São Paulo — Para ser aceito na “restrita tática”, “tropa de elite” do Primeiro Comando da Capital (PCC) que está sendo mobilizada para atuar contra o Bando do Magrelo na região de Rio Claro, os “candidatos” devem cumprir uma série de pré-requisitos e passar por uma espécie de processo seletivo do crime.
A “restrita tática” é apontada como o braço operacional do “setor de inteligência” da facção, a chamada Sintonia Restrita, responsável por arquitetar missões complexas e ataques a autoridades, como o plano para matar o senador Sergio Moro (União) e o promotor Lincoln Gakiya, do Ministério Público de São Paulo (MPSP).
O setor do PCC é comandado por Pedro Luiz da Silva Soares, o Chacal, 52 anos, tido como uma das maiores lideranças da facção fora do sistema carcerário. Em outubro de 2023, ele saiu pela porta da frente da Penitenciária Federal de Mossoró (RN), após cumprir sua pena de 9 anos por roubo, ameaça e formação de quadrilha.
[/relatedpostms]
De acordo com informações de inteligência da Polícia Militar (PM), o “edital” de seleção para a restrita tática exige, por exemplo, habilidades com armamentos de guerra e participação prévia em operações de domínio de cidades, como no caso do chamado “novo cangaço”. Os selecionados ainda passariam por treinamentos especializados em estandes de tiro e campos de paintball.
O deslocamento da restrita tática para a região de Rio Claro ocorre após a gangue comandada por Anderson Ricardo de Menezes, o Magrelo, promover uma caçada a pessoas supostamente ligadas ao PCC na região.
Segundo o MPSP, pelo menos 30 integrantes da maior facção paulista teriam sido assassinadas desde o surgimento do Bando do Magrelo. O grupo teria influência em pelo menos oito cidades até o momento.
O avanço da gangue sobre o interior paulista fez com que Magrelo começasse a dizer que seria o “novo Marcola”.
Enfraquecimento ou desinteresse
Autoridades ligadas às polícias Civil e Militar associam a gradual perda da hegemonia do PCC no tráfico de drogas em São Paulo a um suposto processo de enfraquecimento da facção, em razão da transferência de lideranças para presídios federais, de importantes apreensões e do mapeamento da rede de distribuição.
No entanto, para promotores do Gaeco e especialistas em segurança pública, o surgimento de gangues como o Bando do Magrelo e disputas entre traficantes regionais podem estar associados a uma suposta perda de interesse do PCC nos mercados locais.
Reprodução
Reprodução/MPSP
Reprodução/MPSP
Reprodução/MPSP
Reprodução/MPSP
Arquivo Pessoal
Focada na expansão internacional, sobretudo para o mercado europeu, a facção teria começado a abdicar do varejo da droga, dando prioridade às rotas que levam os entorpecentes ao Porto de Santos que, segundo o MPSP, gera um lucro anual de R$ 11 bilhões para o PCC.
“Hoje, o tráfico internacional da pasta base de cocaína representa dois terços dos negócios do PCC. Não temos informações sobre o que acontece em outros estados, mas aqui em São Paulo eles praticamente abandonaram as biqueiras internas”, afirma um promotor do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, ouvido pelo Metrópoles, em reservado.
Para o pesquisador Bruno Paes Manso, do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, o domínio territorial não faz parte do modelo de negócio do PCC e acontece de forma eventual para garantir o funcionamento das rotas de tráfico até os pontos estratégicos para a exportação da droga.
“O foco do PCC hoje é realmente o mercado internacional. O controle que eles exercem é eventualmente sobre rotas do tráfico, dos Andes até a Europa. Não é que eles controlam um território, eles controlam a rede de fornecimento da droga”, diz.