Psicólogos descobrem motivo do “nojinho” nos relacionamentos


A eca – em inglês, “the ick” – é uma das piores coisas que um parceiro em potencial pode sentir num relacionamento amoroso – pelo menos segundo o discurso moderno. O termo se popularizou em reality shows e se tornou viral em postagens nas redes sociais. A expressão encapsula um sentimento repentino de repulsa por um parceiro romântico.

Embora “the ick” possa ser um termo da moda, que se expande através da mídias sociais, psicólogos e pesquisadores tentam explicar alguns dos gatilhos que causam esse sentimento.

“Ouvi o termo pela primeira vez enquanto assistia ao Love Island UK, onde uma concorrente de repente perdeu a atração por seu parceiro”, conta Chloe Yin, uma das três psicólogas da Azusa Pacific University, nos Estados Unidos, que conduziu um estudo recentemente publicado na revista científica Personality and Individual Differences.

“Isso desencadeou uma luta interna, em que ela debatia se deveria ficar com ele, enquanto pequenas coisas a respeito ele começaram a incomodá-la cada vez mais.” Entender esse fenômeno agora rotulado pode aumentar o conhecimento sobre comportamentos de relacionamento em namoros e relacionamentos modernos, dizem os pesquisadores.

O que causa o nojo?

Para estudar os fatores que provocam a eca, Yin e seus colegas recorreram ao TikTok. Eles reuniram 86 vídeos que usavam a hashtag #theick (#aeca) e, em seguida, quantificaram os motivos dados pelos usuários da rede social para sentir uma repulsa repentina em relação a seus parceiros românticos.

A análise encontrou vários fatores, como a incongruência de gênero (quando um homem ou mulher age de uma forma percebida como atípica de seu gênero), constrangimentos em público ou modo de falar irritante.

Outros fatores incluem gafes na forma de se vestir, misoginia, peculiaridades físicas (como uma mulher cujos pés não alcançavam o chão enquanto estava sentada), foco excessivo na moda ou nas redes sociais, e vaidade.

Embora alguns comportamentos possam parecer incompatíveis com gostos pessoais – como a crença em astrologia ou tentativas exageradas de se adaptar –, outros parecem justificativas neuróticas que um personagem de uma série de comédia de TV dos anos 90, como Seinfeld, daria para abandonar um interesse amoroso: “Os pés dela não alcançavam o chão” e “Ele usava jorts [shorts de jeans]”.

Homens e mulheres sentem a eca de forma diferente

O estudo mostrou que os fatores causadores da eca também variam entre os gêneros. Os pesquisadores questionaram um grupo focal de 125 solteiros sobre como reagiriam a situações em diversas categorias de repulsa. Eles também avaliaram as tendências para o narcisismo ou perfeccionismo.

As mulheres eram mais propensas a sentir nojo em reação a manifestações de misoginia aberta por parte do parceiro masculino, ou por um “jeito de falar irritante” – em relação ao conteúdo, não ao som da fala. Os homens tendiam a se sentir mais repugnados ou por peculiaridades da aparência física, ou por suas parceiras se mostrarem vaidosas demais.

Também se constatou que quem tinha maior tendência a sentir repulsa em outros aspectos da vida também a projetava nos relacionamentos, em oposição aos mais tolerantes. Os mais dotados de narcisismo e perfeccionismo também eram mais propensos à eca no amor.

Era mais frequente as mulheres estarem familiarizadas com o conceito de eca e relatarem essa sensação com frequência maior. Os autores sugerem que isso se deve à “maior sensibilidade feminina para os riscos de uma relação”.

Redes sociais impulsionam padrões fúteis

A finalidade do estudo seria ajudar a compreender as razões da repulsa súbita por potenciais parceiros românticos. Até mesmo os mais perfeccionistas e narcisistas manifestam pouca vontade de autodesenvolvimento quando sentem a eca, afirma Raquel Peel, pesquisadora de psicologia da Universidade de Notre Dame, na Austrália.

“O cenário moderno de namoro é dominado por indivíduos com expectativas altas – e possivelmente irrealistas – em relação a seus parceiros íntimos. Embora haja muitas opções por aí, parece haver pouca responsabilidade sobre como se autoaprimorar no sentido de fortalecer seus próprios relacionamentos. O ônus pousa sobre o outro, que deve se apresentar como a opção ‘perfeita’.”

Segundo a especialista, o próximo passo para os pesquisadores poderia ser investigar como o fenômeno afeta os relacionamentos, em vez de simplesmente analisar o que provoca “the ick”.

“Estudos qualitativos futuros, especialmente estudos observacionais, devem investigar como as pessoas veem isso impactando seus relacionamentos no longo prazo, possivelmente como um padrão de autossabotagem”, conclui Peel.

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