São Paulo — Integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) estão incomodados e prometem punição aos moradores do Jardim Tremembé, na zona norte da capital, que espancaram dependentes químicos na semana passada, em uma tentativa de dispersar a “minicracolândia” que surgiu no bairro.
Em conversa testemunhada pela reportagem, um integrante da facção disse que, quem for visto agredindo os novos “clientes” do tráfico, teria que arcar com as consequências. “Não vai morrer, mas vai apanhar, levar um cacete”, disse. “Nós só queremos ganhar dinheiro”. Segundo ele, alguns dos agressores teriam sido identificados e levados para o tribunal do crime.
Há cerca de dez dias, usuários de drogas passaram a habitar as ruas do bairro. A chegada deles não foi esclarecida. Moradores afirmam que eles teriam sido trazidos por uma van. A Prefeitura de São Paulo diz investigar essa hipótese e não compactuar com a conduta.
Renan Porto/Metrópoles
Renan Porto/Metrópoles
Reprodução
Reprodução
Reprodução
Reprodução
Outros residentes dizem que a migração teria ocorrido após a interrupção na venda de drogas K em bairros da zona leste. A hipótese também não foi confirmada.
Para tentar expulsar os novos “vizinhos”, moradores do Jardim Tremembé se organizaram por meio do WhatsApp com o objetivo de agredir os dependentes químicos, por meio do que ficou conhecido como “çaça-noia”.
“Bondao 23h na porta do [Supermercado] Ourinhos para pegar os noia da leste que veio pra quebrada! Agita! Os motoca vão acabar com isso”, dizia um mensagem compartilhada em grupos do bairro.
No início da semana, eles percorreram as ruas da região, de moto ou a pé, agredindo os dependentes químicos que encontravam pelo caminho com socos, chutes e pauladas. A ação foi registrada em vídeo e divulgada nas redes sociais.
“Pega! Pega noia! Os noia tá correndo mais do que moto (sic)”, diz um homem que filma as agressões, enquanto dirige a sua moto. “Pode vir tropa, tá pegando todo mundo aqui para exemplo. Os polícia tá deixando bater (sic)”, afirma outro.
“Os caras não estão para brincadeira. Pegaram os noias mesmo, foi um bom bonde de mais de 80 moleques. Agora esses noias vão embora”, afirma um homem que grava as agressões da calçada.
Assista:
Lei do crime
A orientação dos integrantes do PCC para os moradores do bairro é que agredir os dependentes químicos só seria permitido caso eles fossem flagrados roubando, conforme diz a faixa estendida próximo uma biqueira da região: “Sujeito a cacete. Se for pego roubando, será cobrado à altura”.
Para os traficantes, os motoqueiros que agrediram os dependentes químicos teriam “generalizado”.
Leia também
Os membros do PCC questionam a veracidade de relatos de moradores do bairro que dizem ter testemunhado roubos e ataque a estabelecimentos. “Cada um fala uma coisa. Um conta uma história, outro vai lá e aumenta. Daqui a pouco vira uma coisa que não tem nada a ver. A maioria dos noias só quer usar a droga, pedir dinheiro no sinal. É melhor que roubar”.
“Nunca vi isso”
Morador do Jardim Tremembé, Ivaldo Batista, de 39 anos, diz que os usuários de drogas que passaram a habitar o bairro costumam caminhar em grandes grupos. Segundo ele, quando voltava para casa no último dia 7, se deparou com mais de 20 pessoas.
“Estava voltando para o trabalho, subindo aqui, e me deparei com mais de 20 pessoas usuárias de drogas. Me assustei, eu nunca tinha visto isso aqui. Muitas vezes são pessoas novas, se perdendo nas drogas. É muito triste”, afirma ao Metrópoles.
“A sensação que isso traz é de insegurança, medo. Você não pode nem abrir um comércio, porque é capaz de eles estarem em abstinência, entrar e roubar. Pode acontecer”, acrescenta.
Dispersão da Cracolândia
Durante o ano de 2024, a concentração de dependentes químicos na esquina da rua dos Protestantes com a Rua dos Gusmões, núcleo da Cracolândia no centro da capital, caiu drasticamente.
Enquanto isso, surgiram novos pontos de aglomeração dos usuários, no entorno da região, como as esquinas da Avenida Rio Branco com a General Osório e com a própria Rua dos Gusmões.
O aparecimento dos novos pontos de venda droga ocorreu após a instalação, em junho do ano passado, de grades no em torno do epicentro de Cracolândia.