segunda-feira, abril 14, 2025
spot_img
HomeNoticias DFCadeira quebrada e comida ruim: equipe de hospital sofre sem estrutura

Cadeira quebrada e comida ruim: equipe de hospital sofre sem estrutura


Cadeiras quebradas, comida estragada e mal armazenada, tarefas em excesso… Funcionários e ex-funcionários do Instituto do Carinho, entidade que dá abrigo a crianças em home care, têm reclamado de acúmulo de função, sobrecarga e más condições de trabalho, descanso e alimentação. Ao menos cinco pessoas procuraram apoio jurídico contra a empresa, que tem sede na QNN 5, em Ceilândia. Algumas delas enfrentam problemas de saúde mental desencadeados pelo emprego.

Os problemas teriam se iniciado há pelo menos cinco anos. As trabalhadoras alegam que eram contratadas como cuidadoras e/ou mães sociais, mas acabavam atuando como técnicas de enfermagem e enfermeiras sem nenhuma remuneração adicional.

Uma das funcionárias detalha ao Metrópoles as funções extras que acabavam tendo que cumprir para o bem dos pacientes. “Eu já fiz aspiração de traqueostomia, curativos, irrigação intestinal… monitorava os pacientes o tempo todo, e quando algum deles passava por alguma intercorrência, eu tinha que intervir para estabilizá-lo e colocá-lo em suporte de oxigênio”, descreve a mulher, que terá a identidade preservada.

“Por vezes, nós tínhamos até mesmo que fazer reanimação cardiopulmonar em caso de parada cardiorrespiratória. Em 2023, uma criança teve os batimentos cardíacos quase que paralisados. Acionamos o Samu, mas ele faleceu no hospital poucas horas depois”, relembra.

Falta de estrutura

Além do acúmulo de função, os colaboradores sofriam sem intervalos pré-determinados e locais adequados para descanso. “A gente descansa quando dá. Por muitas vezes, tirei horário de descanso na enfermaria junto com os pacientes”, relata a empregada.

“As cadeiras eram duras e quebradas. Houve uma época em que nem os assentos nós tínhamos, acabávamos deitando em tatames no chão”, relembra.

“Chegaram a falar que disponibilizaram uma verba para comprar novas cadeiras, mas elas nunca chegaram. Pelo contrário: eu já ouvi comentários dizendo que a gente estava ali para trabalhar, e não para dormir.”

Veja imagens dos assentos:

denuncia-instituto-carinho Cadeira quebrada e comida ruim: equipe de hospital sofre sem estrutura
3 imagens

denuncia-instituto-carinho-2 Cadeira quebrada e comida ruim: equipe de hospital sofre sem estrutura

denuncia-instituto-carinho-7 Cadeira quebrada e comida ruim: equipe de hospital sofre sem estrutura
 Cadeira quebrada e comida ruim: equipe de hospital sofre sem estrutura
1 de 3

Material cedido ao Metrópoles

 Cadeira quebrada e comida ruim: equipe de hospital sofre sem estrutura
2 de 3

Material cedido ao Metrópoles

 Cadeira quebrada e comida ruim: equipe de hospital sofre sem estrutura
3 de 3

Material cedido ao Metrópoles

Além de ter o descanso prejudicado, a hora da alimentação também costumava ser um problema. “Sempre nos foi ofertada comida com prazo de validade vencido, como pães e iogurtes, por exemplo. Além disso, já recebemos carne com mau-cheiro e frutas estragadas.

Veja:

denuncia-instituto-carinho-3 Cadeira quebrada e comida ruim: equipe de hospital sofre sem estrutura
3 imagens

denuncia-instituto-carinho-4 Cadeira quebrada e comida ruim: equipe de hospital sofre sem estrutura

denuncia-instituto-carinho-5 Cadeira quebrada e comida ruim: equipe de hospital sofre sem estrutura
 Cadeira quebrada e comida ruim: equipe de hospital sofre sem estrutura
1 de 3

Material cedido ao Metrópoles

 Cadeira quebrada e comida ruim: equipe de hospital sofre sem estrutura
2 de 3

Material cedido ao Metrópoles

 Cadeira quebrada e comida ruim: equipe de hospital sofre sem estrutura
3 de 3

Material cedido ao Metrópoles

O hospital costuma oferecer aos funcionários almoço e jantar e não permite que os contratados entrem com comida na unidade. “Quando um de nós acompanhava uma criança internada, tínhamos que comprar nosso próprio café da manhã. Já buscamos o direito a essa refeição em uma reunião, mas nos disseram que a unidade não tinha obrigação de dar café e nem lanche”, diz a mulher.

“Colegas adoecendo”

Em mensagem enviada em 24 de janeiro deste ano a um grupo de colaboradores do Instituto, o coordenador-geral reconhece que houve um “aumento significativo e preocupante” de funcionários sendo afastados por problemas de saúde mental naquele período.

Na mensagem, o gestor conta que se reuniu com a direção do Instituto, prometia falar com outros coordenadores e pedia que os funcionários avisassem com antecedência quando precisassem ser afastados.

“Nos últimos meses, a quantidade de ausência de colaboradores é algo expressivo”, afirma o coordenador-geral na mensagem. “Aproveito a oportunidade para informá-los que qualquer ausência, seja de qualquer natureza, sempre que possível deve ser comunicada com antecedência para podermos organizar melhor nosso trabalho.”

Leia:

denuncia-instituto-carinho-6-600x400 Cadeira quebrada e comida ruim: equipe de hospital sofre sem estrutura

Fala da advogada

A advogada Millena Cailos, que representa judicialmente alguns dos funcionários, explica que os empregados sofriam e sofrem com salário inadequado, insalubridade no ambiente de trabalho e, sobretudo, dano moral, que, na avaliação dela, “é uma das questões mais graves”.

“Duas das funcionárias que eu represento estão diagnosticadas com burnout, e todos eles se queixam de pressão psicológica. Alguns sequer têm graduação em enfermagem, mas, sem aviso prévio, eram escalados para fazer uma aspiração de traqueostomia, por exemplo”, afirma Millena.

“Eles se sentem despreparados para fazer aquele tipo de procedimento porque não têm a formação adequada, mas são obrigados a fazer. É reiteradamente dito a eles que, se algo der errado, a culpa é deles.”

Segundo a advogada, até o momento, o Instituto do Carinho não se manifestou oficialmente acerca das queixas dos colaboradores. “Ouvi apenas rumores de um dos gerentes negando as acusações. Já percebi que, para eles, a imagem é tudo. Irão evitar comentar sobre a ação judicial para que outros empregados não se encorajem a denunciar também”, aposta.

“Espero que de fato seja feita justiça”, encerra a defensora.

Defesa

Em nota, o diretor-administrativo do Instituto do Carinho, João Henrique Barbosa, se posicionou perante as denúncias. Destacou incialmente que a entidade é “o único centro no Brasil com atuação especializada integral” no acolhimento de crianças com doenças raras.

O Instituto afirma que, recentemente, desligou alguns funcionários “em razão de condutas incompatíveis com os princípios da instituição, especialmente por desídia [preguiça] no desempenho de suas funções”.

“Entendemos que tais medidas, embora necessárias para garantir a qualidade do serviço prestado, podem ter gerado insatisfações que eventualmente culminaram em relatos distorcidos da realidade”, declarou o diretor-administrativo.

Quanto às cadeiras e sofás, o gestor alega que “já foram devidamente substituídos”.

“Reiteramos nosso compromisso com a transparência, com a ética institucional e, sobretudo, com a missão de oferecer acolhimento humanizado, digno e respeitoso às crianças que mais precisam”, encerra a nota.



Source link

RELATED ARTICLES

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

- Advertisment -
Google search engine

Most Popular

Recent Comments