São Paulo – O investigador-chefe do 77º DP (Santa Cecília), delegacia situada nas proximidades do centro de São Paulo, é acusado pelo Ministério Público paulista (MPSP) e pela Corregedoria da Polícia Civil comandar um bando criminoso que movimentou R$ 81 milhões. E, somando-se a movimentação de outros suspeitos ligados a ele, o valor cresce ainda mais e chega a R$ 123 milhões segundo a investigação.
Gimenez, é classificado como “um traficante internacional infiltrado na Polícia Civil“, conforme consta em trecho da denúncia, recebida pelo Metrópoles, é apontado como líder de uma quadrilha envolvida com o desvio e venda de cargas de cocaína e maconha. No documento, ele é também mencionado que o policial foi investigado “várias vezes”. Porém, “sempre conseguia uma maneira de se safar”.
Desde 2021, a Corregedoria acompanha as ações do policial e de outros membros da instituição ligados a ele, além de familiares e parceiros de crime do agente. Com base nas investigações do órgão fiscalizador, reforçadas por denúncia do MPSP, um esquema sofisticado de desvio de cargas milionárias de drogas foi esmiuçado, o qual usava a estrutura da Polícia Civil para ser executado.
Junto com Cléber Rodrigues Gimenez, também foram presos, no último dia 23 janeiro, os investigadores Gustavo Cardoso de Souza, 38, e Thiago Gonçalves de Oliveira, 35 — subordinados dele no 77º DP (Santa Cecília) — além do empresário do ramo da construção Maxwell Pereira da Silva, 30, e Matheus Cauê Mendes Parro, 27. As defesas dos acusados não foram localizadas. O espaço segue aberto para manifestações.
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Cargas de drogas eram apreendidas e trocadas por talco ou gesso
Reprodução/Polícia Civil
Policial foi preso sob a suspeita de chefiar esquema criminoso
Cleber Rodrigos Gimenez, chefe de investigação da Polícia Civil de SP
Reprodução/Polícia Civil
Cléber Rodrigues Gimenez
Reprodução/Polícia Civil
A denúncia anexada a documento do MPSP explica como o chefe de investigação, cujo salário líquido na polícia é de R$ 8 mil, mantinha o negócio de drogas — com o qual movimentou R$ 81 milhões, somente por uma de suas empresas, durante cinco anos.
O esquema
O registro da Promotoria mostra que Cléber Rodrigues Gimenez contava com um “comprador” de drogas, de origem colombiana, que negociava cargas de cocaína e maconha oriundas de outras estados. Um local para a entrega da encomenda ilegal era combinado, em São Paulo. Então, “gansos” ligados ao investigador-chefe passavam-se por policiais e apreendiam as cargas.
“Gansos” são pessoas utilizadas há décadas por policiais civis como informante, mas que também ajudam agentes corruptos na prática de crimes, além de servir como agentes duplos, repassando informações sobre criminosos para equipes de investigação – que, muitas vezes, se valem disso para extorquir quadrilhas.
O chefe de investigações também contava com uma rede de contatos, em outros estados, como o Mato Grosso do Sul, os quais detalhavam as características dos veículos com as cargas, além dos locais por onde trafegariam com a droga.
Galpão no Bom Retiro
A denúncia reproduzida pelo MPSP segue explicando que, após ser “apreendida” pelos gansos, a droga era levada para um galpão pertencente ao investigador-chefe, na região do Bom Retiro, centro paulistano. No local, a carga — geralmente cocaína — tinha a mesma quantidade da apreensão substituída por talco, gesso ou algum pó branco.
A falsa droga, então, era encaminhada até uma delegacia do centro paulistano, para que o flagrante de tráfico fosse registrado em um boletim de ocorrência (B.O.), por policiais de plantão, os quais recebiam, cada um, R$ 30 mil.
Para garantir o sucesso do esquema, um perito criminal do Instituto de Criminalística, ligado à quadrilha, fazia laudos falsos, constatando que a carga apresentada era de drogas.
Policiais corruptos, ligados à 1ª Delegacia Seccional do Centro de São Paulo, segue o documento da Promotoria, teriam embolsado ao menos R$ 50 milhões com o esquema.
Queimando o flagrante
Para evitar que fossem descobertos, os agentes corruptos viabilizavam para que as cargas de talco ou gesso, por exemplo, fossem incineradas o quanto antes, geralmente na Grande São Paulo, para eliminar as provas de seus crimes. A queima das apreensões de drogas são uma praxe e sempre acompanhada por membros do MPSP.
Além da denúncia reproduzida pela Promotoria, a Corregedoria da Polícia Civil também passou a investigar os policiais, porque desconfiou do grande volume de drogas apreendido pelas equipes de Cléber Rodrigues Gimenez, mas em locais fora da circunscrição de onde deveria atuar, desde 2021, quando ele coordenava as investigações do 59º DP (Jardim dos Ipês).
Ao menos mais três policiais civis, entre eles uma delegada que atua na região central paulistana, estão atualmente na mira da Corregedoria.