O que começou como uma brincadeira inocente para se enturmar na adolescência terminou em um diagnóstico que mudou a vida da brasiliense Laura Beatriz Nascimento, de 27 anos. Após anos de uso cigarros eletrônicos, a jovem foi diagnosticada com câncer no pulmão no final do ano passado.
A primeira experiência da influencer com a nicotina foi aos 14 anos, quando decidiu experimentar um cigarro influenciada pelo grupo de amigos fumantes. O consumo era esporádico e durou alguns anos sem grandes excessos.
O vício passou a ficar sério em 2016, dos 17 para os 18 anos. Laura foi fazer intercâmbio na Nova Zelândia e por lá conheceu o cigarro eletrônico. Durante o período, ela conta que passou a fumar com mais frequência – tanto cigarros eletrônicos quanto os tradicionais.
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De volta ao Brasil no ano seguinte, a jovem abandonou o uso de cigarro comum e passou a utilizar apenas o tabaco ocasionalmente. “Quando voltei pra cá, peguei ranço de cigarro. Passei a fumar apenas tabaco, principalmente quando eu bebia”, relata a brasiliense.
Vício no vape
Após anos fumando apenas esporadicamente, Laura voltou a utilizar o cigarro eletrônico durante a pandemia de Covid-19, em 2020, quando conheceu o pod descartável. Segundo a influencer, ela caiu na promessa de que o aparelho era menos prejudicial ao organismo, reduzindo o uso de nicotina. No entanto, o resultado foi o contrário: a dependência só aumentou.
“Antes, quando fumava tabaco, se eu quisesse, ficava três meses sem fumar. Depois do pod, fiquei totalmente dependente e passei a fumar todo dia. Não conseguia ficar sem”, afirma a jovem.
Junto com o vício, vieram os gastos financeiros. Atualmente, os preços de um pod descartável variam de R$ 50 a R$ 250. A brasiliense relata que, geralmente, comprava um a dois por mês e, quando não tinha dinheiro, arrumava trabalhos temporários ou pedia tragos a amigos que tinham o aparelho.
Sintomas ignorados e diagnóstico assustador
Mesmo dependente dos cigarros eletrônicos, Laura levava uma vida ativa fisicamente. Treinos na academia, corrida e bicicleta faziam parte de sua rotina. Porém, ela percebia que seu desempenho nas atividades não melhorava. Com a vida social muito ativa, a jovem percebia que acordava com a respiração pesada, mas atribuía o sintoma ao cansaço e ao álcool.
Em novembro de 2024, os sinais se intensificaram e ela resolveu buscar ajuda médica. “Comecei a tossir muito e sentir dor nas costas quando tossia. Achei que fosse gripe. Uma semana antes de viajar para Bahia com amigos, decidi procurar um hospital por desencargo de consciência”, conta.
O que parecia uma consulta de rotina virou uma internação imediata. Após a realização de exames, um oncologista entrou no quarto e confirmou o diagnóstico de câncer no pulmão. Laura precisou realizar uma cirurgia para retirar metade dos órgãos e linfonodos comprometidos.
Riscos do uso excessivo de cigarros eletrônicos
Populares entre o público jovem, os cigarros eletrônicos têm ganhado cada vez mais adeptos no Brasil. Embora sejam comercializados como uma alternativa menos prejudicial ao cigarro tradicional, o vape também contém substâncias tóxicas que, a longo prazo, podem causar doenças pulmonares graves e problemas cardiovasculares.
O visual tecnológico, os aromatizantes doces e variados, além do cheiro bem mais agradável que o cigarro comum tornam o vape mais atraente ao público, especialmente entre os jovens. No entanto, por trás do aspecto moderno, está o mesmo problema. Geralmente, a concentração de nicotina nos cigarros eletrônicos é bem superior ao cigarro tradicional, aumentando o risco de dependência.
Apesar de não queimarem tabaco, os cigarros eletrônicos também colocam a saúde em risco, com destaque para casos de EVALI, uma lesão pulmonar aguda relacionada ao vape que pode surgir de forma súbita e grave. O risco é especialmente alto em produtos com tetrahidrocanabinol (THC) na fórmula.
“Em relação à dependência, ambos os dispositivos são altamente viciantes devido à presença de nicotina, mas os cigarros eletrônicos podem facilitar a entrega de doses mais elevadas e rápidas da substância, potencializando o risco de dependência”, alerta o pneumologista Fabrício Sanches, do Hospital Santa Lúcia, em Brasília.
Recuperação de Laura
Determinada a se recuperar e orientada pelos médicos, Laura passou a realizar atividades físicas regularmente para ajudar o pulmão a se expandir. Desde abril, a jovem voltou para a academia, além de praticar natação semanalmente.
Os resultados são visíveis: mesmo após a cirurgia, a brasiliense conseguiu superar seu recorde na corrida, algo impensável quando usava cigarros eletrônicos. Atualmente, Laura utiliza sua história e também se dedica a produzir conteúdos na internet buscando conscientizar jovens sobre os malefícios do uso de cigarros eletrônicos.
“Sempre dá tempo de parar. Se você fuma há pouco tempo, pare agora, porque depois é muito mais difícil. A nicotina é um dos vícios mais difíceis de largar, e os cigarros eletrônicos têm muito mais nicotina do que o cigarro comum. Se recair, tente de novo. Uma hora você consegue”, finaliza.
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