A importância do estilo de vida para prevenir e até tratar doenças


A medicina do estilo de vida tem ganhado cada vez mais destaque por oferecer às pessoas uma abordagem prática, integrada, personalizada e acessível para a promoção da saúde. Em vez de focar apenas na prevenção de doenças, ela aposta no cuidado contínuo por meio do incentivo a hábitos saudáveis, priorizando intervenções não invasivas em busca de qualidade de vida.

Mais do que isso: em muitos casos, também é aliada no tratamento de doenças e até consegue fazer a desprescrição de medicamentos, diminuindo doses ou eliminando o uso de remédios para doenças crônicas não transmissíveis.

“A gente foca no tratamento intensivo do estilo de vida”, diz a médica Sley Tanigawa Guimarães, coordenadora da pós-graduação em medicina de estilo de vida da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein. “Os gastos com saúde só aumentam porque os hábitos das pessoas estão piorando muito. Isso tem consequências: epidemia de obesidade, de diabetes e o desenvolvimento de doenças crônicas cada vez mais cedo.”

Conheça cada pilar da medicina do estilo de vida e saiba como eles podem impactar positivamente sua saúde:

1. Alimentação saudável

Dietas balanceadas — baseadas na ingestão adequada de frutas, verduras, legumes, grãos integrais, sementes, fontes proteicas “magras” e gorduras saudáveis — contribuem para o funcionamento adequado do corpo, pois contêm os nutrientes necessários ao organismo.

Uma boa alimentação reduz o risco de problemas como diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardiovasculares e até certos tipos de câncer. Além disso, escolhas alimentares saudáveis podem ajudar a controlar o peso corporal, melhorar o funcionamento digestivo e fortalecer o sistema imunológico.

“O maior erro que as pessoas cometem na alimentação é não ter esses ingredientes no prato”, observa Guimarães, que também é fundadora do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida. Exagerar no açúcar, no sal e no consumo de produtos ultraprocessados também é prejudicial à saúde. “O excesso de gordura saturada, por exemplo, está associado ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares, sendo a principal causa de morte no Brasil e no mundo”, destaca a médica.

Também é importante manter uma alimentação consciente, prestando atenção aos sinais de fome e saciedade. A sugestão é comer até quando se sentir 80% satisfeito, evitando exageros.

Ainda vale aquela velha dica de fazer do seu prato um arco-íris, com uma alimentação bem variada em vegetais e menos carne vermelha. “A carne não é proibida, mas ela não deve ser o elemento principal da refeição, e sim o acompanhamento. Devemos valorizar cada vez mais a proteína vegetal, como feijões, grão-de-bico, lentilha, ervilha. Não existem alimentos proibidos, mas precisamos ter consciência ao escolher”, ensina Guimarães.

2. Atividade física

Não há dúvidas de que a prática regular de atividades físicas é essencial para manter o corpo saudável e prevenir uma série de problemas. O exercício também é fundamental no tratamento de doenças, pois ajuda a controlar o peso, melhora a saúde cardiovascular, aumenta a força muscular e a flexibilidade, além de beneficiar a saúde mental, reduzindo os níveis de estresse e promovendo o bem-estar emocional.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda fazer pelo menos 150 minutos de exercícios de intensidade moderada por semana – aquela em que você consegue falar, sem ficar ofegante. Se for uma atividade intensa, a prática pode ser de 75 minutos semanais.

Outro detalhe é fazer, pelo menos duas vezes por semana, atividades de força/resistência, como a musculação. “A saúde dos músculos é importante tanto para prevenir dor quanto para manter a autonomia funcional. Quando trabalhamos bem os músculos, liberamos substâncias importantes para manter a saúde do cérebro e prevenir demências, por exemplo”, observa a médica.

Além disso, a prática de exercícios reduz o tempo sentado, fator de risco para diversas doenças. “Não adianta nada fazermos um treino forte na academia por uma hora no dia e depois passarmos o dia todo sentados. Isso é um comportamento de risco. Nosso corpo foi programado para se movimentar; o anormal é o quão sedentário somos hoje em dia”, pontua Sley Guimarães.

3. Sono de qualidade

O sono desempenha um papel crucial na recuperação e no funcionamento adequado do organismo. A falta dele pode levar a uma série de problemas, incluindo dificuldade de concentração, aumento do risco de doenças cardíacas, diabetes, depressão e obesidade. “O sono não foi feito apenas para o corpo descansar. Quando dormimos, muitas coisas importantes acontecem, como o controle da pressão arterial, reparos no coração, controle do açúcar no sangue, entre outras ações”, explica Guimarães.

Esse período de descanso também está associado à melhora do sistema imunológico — pessoas com privação de sono, por exemplo, tendem a ter quadros de saúde piores quando adoecem. Dormir mal também impacta o humor, afeta o raciocínio e a capacidade de fazer boas escolhas. Além disso, em qualquer idade, o sono insuficiente aumenta o risco de depressão.

Manter uma rotina regular de descanso noturno, garantir um ambiente tranquilo e livre de interrupções, além adotar práticas que promovam o relaxamento antes de dormir, são maneiras eficazes de melhorar a qualidade do sono e, consequentemente, a saúde geral. “Vale lembrar que a atividade física também pode ajudar nisso”, destaca a médica do Einstein.

4. Gestão do estresse

Pode parecer estranho, mas o estresse é essencial para nossa vida. Isso porque ele se manifesta sempre que nosso corpo precisa se adaptar a uma situação diferente – o primeiro evento estressor que vivemos, por exemplo, é o momento do parto e a consequente necessidade de adaptação ao ambiente fora do útero materno. “Ao longo da vida, o estresse é importante para termos a atenção necessária para resolver as coisas. Se temos menos estresse, ficamos entediados”, diz Guimarães.

Hoje em dia, porém, temos de lidar com uma quantidade de estresse muito maior do que o corpo consegue. E o estresse crônico é prejudicial por ser fator de risco para uma série de doenças físicas e psicológicas, como hipertensão, doenças cardíacas, depressão e ansiedade.

“Aqui entra o papel do profissional de saúde que vai buscar entender o momento de vida daquela pessoa. Não é na hora do evento estressor que temos os sintomas, eles podem aparecer tempos depois. Quando começamos a investigar, muitas vezes fazemos a associação com o estresse”, relata a médica.

A partir do momento em que outros possíveis de diagnóstico são excluídos, é importante tratar o estresse. O tratamento pode ser medicamentoso, mas adotar práticas como meditação, mindfulness (atenção plena), atividade física e medidas de relaxamento, como hobbies e o contato com a natureza, pode reduzir os efeitos prejudiciais do estresse.

5. Conexões sociais

Manter relações interpessoais saudáveis tem um impacto significativo na saúde física e mental – especialmente para as pessoas mais velhas. Estudos mostram que a conexão social auxilia no controle do estresse e ajuda no suporte emocional, por exemplo. Além disso, indivíduos com uma rede social sólida tendem a viver mais e com melhor qualidade.

“A sensação de solidão equivale a fumar de 10 a 15 cigarros por dia, de tão ruim que é para a saúde”, conta Guimarães. São essas relações mais significativas que promovem a sensação de pertencimento, felicidade e propósito na vida. Ter amizades próximas, interagir com a família e participar de atividades sociais são hábitos fundamentais para um envelhecimento saudável e uma vida equilibrada.

6. Controle do álcool e tabaco

O último pilar da medicina do estilo de vida envolve a prevenção de comportamentos que podem prejudicar a saúde, como o consumo excessivo de álcool, o tabagismo e o uso de substâncias ilícitas. “Não há dúvidas de que o tabaco é extremamente tóxico e está relacionado a vários tipos de câncer e problemas cardiovasculares. Há vários profissionais habilitados e medicações que ajudam a parar de fumar”, afirma Guimarães.

Já reduzir a ingestão de álcool é mais complexo, porque o consumo de bebidas alcoólicas é cultural e está associado a momentos de diversão, comemoração e prazer. Mas a bebida está ligada a pelo menos sete tipos de câncer e, ainda assim, as pessoas não fazem essa correlação de maneira óbvia, como acontece com o cigarro.

“Não é um discurso moralista, mas não existe dose mínima segura de álcool que a gente possa recomendar para um paciente. E não ter uma recomendação mínima não significa que deva ser proibido”, frisa a especialista. Evitar ou reduzir esses hábitos contribui para a longevidade e a melhoria da qualidade de vida.

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