No fechamento da sessão plenária de fevereiro, o Conselho Federal de Química (CFQ) recebeu o sociólogo e doutor em Economia Luiz Roberto Liza Curi para debater temas relativos ao ensino superior de Química. Curi foi conselheiro e presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), instituição de que fez parte até o segundo semestre de 2024.
O interesse em trazer o convidado ao plenário do CFQ em Brasília vinha de alguns meses, como parte das ações de debate sobre o ensino da química e o impacto na definição das atribuições dos profissionais da química. Em sua exposição, ele trouxe um panorama geral sobre o ensino superior no Brasil. Apresentou sua preocupação com a qualidade dos cursos ofertados presencialmente e à distância país afora e abordou, especialmente, as instâncias do Ministério da Educação que tratam da avaliação dos cursos superiores.
Ele destacou alguns números, como o percentual de evasão dos cursos de graduação e apontou a falta de estímulo e o ensino conservador como responsáveis por resultados deficientes da educação brasileira, como o fato de que 80% dos graduados e graduadas não conseguem emprego em suas áreas de formação. Sobre a realidade da Química nesse cenário, Curi apontou que, por se tratar de uma área fundamental para o desenvolvimento do país, ela precisa ser vista com um olhar diferenciado.
“A Química é uma área estratégica para o país, e o processo de formação, de expansão da educação superior deve levar em consideração as áreas estratégicas para a produtividade, para o crescimento da indústria, para a ampliação do emprego e, portanto, para o combate à desigualdade. A Química também é muito relevante para serviços que devem ser, digamos assim, objetos de inovação periódica. Que a Química cresça não só em número de matrículas, de cursos, mas também sob a forma de emprego, produtividade, competitividade, maior crescimento econômico e mais amplo combate à desigualdade social”, afirmou.
Curi acredita que o Sistema CFQ/CRQs tem papel de contribuir com o debate para tornar o ensino da Química mais atraente.
“Os currículos têm que acompanhar o desenvolvimento dos desafios do futuro e não repetir o passado. Ninguém aguenta um currículo que repita o passado. Os estudantes não ficam, saem. Por outro lado, os cursos de Química têm que ser muito bem avaliados para serem consistentes no processo formativo”, concluiu.
O presidente do CFQ, José de Ribamar Oliveira Filho, agradeceu as contribuições de Curi.
“Foi muito bom, muito enriquecedora a sua apresentação. Vamos trilhar esse caminho, de procurar o CNE e construir essa colaboração mútua para o progresso do ensino da Química”, disse Oliveira Filho.
Já o conselheiro federal Rafael Almada, que também é reitor do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), agradeceu ao palestrante e se somou à defesa de que o Sistema CFQ/CRQs se empenhe junto ao CNE para qualificar ainda mais o ensino da Química no país.
“Entendemos que, cada vez mais, esse debate tem de ser maior. Entendemos inclusive que a atribuição que a gente dá aos egressos de cada curso está um pouco desatrelada do mercado de trabalho. O mercado de trabalho muitas vezes não olha as atribuições que a gente coloca. Podemos contribuir com currículos mais adequados porque temos aqui representações dos mais diferentes segmentos, instituições privadas, públicas, setor industrial e sindicatos patronais e de profissionais. Tem de tudo um pouco aqui neste plenário”, afirmou Almada.