Um estudo realizado por pesquisadores do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP) revela que as políticas públicas brasileiras voltadas para o clima e para a saúde estão desconectadas, o que pode agravar os efeitos de inundações, ondas de calor e secas. Com isso, o Sistema Único de Saúde (SUS) pode enfrentar ainda mais desafios no futuro.
O relatório, divulgado na última terça-feira (4/2), integra uma pesquisa internacional que envolve seis países — Brasil, Alemanha, Estados Unidos, Quênia, Reino Unido e Caribe. O estudo é coordenado pelo Center for Climate Change Communication, da George Mason University (EUA), com financiamento da Wellcome Trust.
“As mudanças climáticas estão causando danos profundos e crescentes à saúde humana. Eventos extremos recentes e cada vez mais frequentes, como a seca histórica da Amazônia e a tragédia climática do Rio Grande do Sul, são exemplos concretos do quanto a questão climática nos coloca a todos em risco”, dizem os pesquisadores.
No Brasil, os pesquisadores analisaram dados públicos anteriormente e fizeram entrevistas com 33 representantes do governo, da academia e de organizações da sociedade civil.
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Impactos das mudanças climáticas
Entre os impactos das mudanças climáticas na saúde, o estudo cita o aumento de doenças como enteroviroses, hepatites e leptospirose, além da expansão de arboviroses — como dengue, malária, zika e chikungunya — para regiões antes consideradas de baixo risco, como o Sul do Brasil.
A pesquisa também aponta que o estresse térmico e a poluição do ar, resultantes da queima de combustíveis fósseis, estão associados a doenças cardíacas, respiratórias e neurológicas, como o acidente vascular cerebral (AVC) e o Alzheimer.
Joao Paulo Burini
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Políticas de clima e saúde no Brasil
A pesquisa identifica várias barreiras para a integração entre as políticas de clima e saúde no Brasil. Entre os principais obstáculos estão a falta de planejamento estratégico, a ausência de dados sobre os impactos climáticos na saúde, a polarização política e a escassez de recursos financeiros.
Além disso, os dados oficiais não registram de forma adequada as mortes relacionadas a desastres climáticos, como enchentes e queimadas.
“Todas as pessoas que morreram diretamente na tragédia do Rio Grande do Sul estão ali [nos registros] como vítimas de afogamento ou politraumatismos. A mesma coisa acontece com as pessoas afetadas pelas doenças respiratórias durante as queimadas. Não há qualquer referência à crise climática nos registros”, explicaram os pesquisadores em comunicado.
O relatório destaca que o SUS é uma peça-chave para a integração de políticas de clima e saúde, em função da sua “capilaridade e abrangência”. Para os pesquisadores, é necessário investir na capacitação dos profissionais de saúde para que eles compreendam a relação entre mudanças climáticas e saúde. Dessa forma, os profissionais poderiam orientar a população sobre como reduzir os impactos da crise climática.
O estudo também aponta que a adaptação do Brasil às mudanças climáticas é desafiada por problemas estruturais, como desigualdade social, pobreza e falta de acesso a serviços básicos. No entanto, os cientistas alertam que esses problemas podem ser ampliados pelos efeitos do aquecimento global, e defendem a criação de estratégias e governança para enfrentar os desafios.
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