Um novo estudo publicado nesta quarta-feira (20/8) na Alzheimer’s & Dementia mostra que ter bons níveis de ácidos graxos como o ômega-3 pode proteger mulheres contra a doença de Alzheimer. A pesquisa comparou o sangue de pessoas saudáveis e pacientes e encontrou perda significativa dessas gorduras em mulheres com a condição.
A investigação feita pelo King’s College London mostrou que os níveis de lipídios insaturados estavam até 20% mais baixos em mulheres com sintomas de Alzheimer. Esses compostos são considerados importantes para o funcionamento cerebral.
O que é o Alzheimer?
- O Alzheimer é uma doença que afeta o funcionamento do cérebro de forma progressiva, prejudicando a memória e outras funções cognitivas.
- Ainda não se sabe exatamente o que causa o problema, mas há indícios de que ele esteja ligado à genética.
- É o tipo mais comum de demência em pessoas idosas e, segundo o Ministério da Saúde, responde por mais da metade dos casos registrados no Brasil.
- O sinal mais comum no início é a perda de memória recente. Com o avanço da doença, surgem outros sintomas mais intensos, como dificuldade para lembrar de fatos antigos, confusão com horários e lugares, irritabilidade, mudanças na fala e na forma de se comunicar.
Nos homens, os pesquisadores não encontraram diferenças relevantes nos mesmos lipídios. Isso sugere que a doença pode afetar os sexos de maneira distinta a partir do perfil nutricional, o que pode ajudar a explicar por que mais mulheres recebem mais frequentemente que homens o diagnóstico de Alzheimer.
Como foi feita a pesquisa?
A investigação incluiu 841 voluntários, incluindo pessoas com Alzheimer, com comprometimento cognitivo leve e com controles saudáveis. As amostras de plasma foram avaliadas por meio de espectrometria de massa, que permitiu a análise de 700 tipos de lipídios.
Mulheres com Alzheimer apresentaram mais lipídios saturados, considerados prejudiciais, e menos lipídios insaturados, entre eles os que contêm ácidos graxos ômega. Nos homens, esse padrão não foi observado.
A médica Cristina Legido-Quigley, uma das líderes do estudo, afirmou que a diferença entre os sexos foi a descoberta mais chocante e inesperada. “O estudo revela que a biologia lipídica do Alzheimer é diferente entre os sexos, abrindo novos caminhos para a pesquisa. Além disso, dá indícios de que a menor quantidade desses compostos pode ser causal no Alzheimer, mas precisamos de um ensaio clínico para confirmar isso”, afirmou em comunicado à imprensa.
Possível efeito protetor do ômega-3
A pesquisa destacou que, com os dados disponíveis, é possível afirmar que as mulheres devem assegurar o consumo de ácidos graxos ômega, especialmente o ômega-3, mas também ômega-6 e ômega-9, para se protegerem do declínio cognitivo. Eles são encontrados em alimentos como peixes, especialmente salmão, sardinha e atum, além de fontes vegetais como sementes de chia e linhaça, nozes, abacate, azeite de oliva e óleo de canola.
“Conseguimos detectar diferenças biológicas nos lipídios entre os sexos em uma grande corte e demonstrar a importância dos lipídios que contêm ômegas no sangue, o que não havia sido feito antes. Os resultados são muito impressionantes e agora estamos analisando o quão precocemente essa mudança ocorre nas mulheres”, afirmou o médico Asger Wretlind, também do King’s College, e coautor da pesquisa.
Impactos na saúde pública
Estima-se que 35 milhões de pessoas no mundo vivam com Alzheimer e duas em cada três pessoas que vivem com este tipo de demência são mulheres. Embora se acredite que fatores sociais e hormonais contribuam para esta maior prevalência, ainda não está claro para a ciência o motivo por trás de tamanha diferença. As disparidades na forma de processar as gorduras absorvidas pelo corpo, como indica a nova pesquisa, pode ser um destes fatores.
Pesquisas futuras também devem ser realizadas em uma população etnicamente mais diversa para verificar se o mesmo efeito é observado, defendeu a médica Julia Dudley, Chefe de Pesquisa da Alzheimer’s Research UK, instituição que financiou a pesquisa.
“Compreender como a doença se manifesta de forma diferente em mulheres pode ajudar os médicos a adaptar tratamentos e orientações de saúde futuros”, concluiu Dudley.
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