O Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos (HHS) confirmou, nesse domingo (24/8), o primeiro caso humano no país da mosca-bicheira (Cochliomyia hominivorax), também chamada de “bicheira-do-Novo-Mundo”. Esse parasita carnívoro está associado a viagens e é proveniente de um local afetado por um surto, como a América Central e o sul do México.
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Nesse caso investigado pelo Departamento de Saúde de Maryland e pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA desde 4 de agosto, um indivíduo que não teve a identidade revelada retornou de uma viagem a El Salvador, conforme comunicou o porta-voz do HHS Andrew G. Nixon à agência de notícias Reuters.
Antes do HHS confirmar o caso, a Reuters teve conhecimento, na semana passada, via fontes do setor de carne bovina que uma pessoa havia sido infectada durante uma viagem à Guatemala. A agência de notícias relatou sobre o indivíduo ter sido tratado e submetido a várias medidas de prevenção.
Médicos explicam
Embora casos em humanos sejam raros, a mosca-bicheira costuma afetar animais de criação de grande porte, a exemplo de gado e porcos, explica o coordenador de infectologia do Hospital Santa Lúcia, o médico Werciley Júnior. O infectologista salienta que a transmissão ocorre pelo contato do inseto com lesões na pele.
Mestre em ciências médicas, o clínico geral Lucas Albanaz detalha como acontece a transmissão: “A fêmea da mosca deposita ovos em feridas abertas ou orifícios naturais em animais — ou, raramente, em humanos. Ao eclodirem, as larvas penetram ativamente na pele, consumindo tecidos vivos.”
Werciley frisa que o tecido ao redor é comprometido devido a larva se desenvolver. Segundo Albanaz, se a ferida for “perturbada”, os parasitas podem se aprofundar ainda mais. “Por isso, o nome ‘screwworm‘, isto é, verme-parafuso”, esclarece.
Sintomas
De acordo com o clínico geral, as larvas da mosca-bicheira criam uma “lesão dolorosa e frequentemente purulenta” assim que invadem o organismo. A seguir, ele lista os sintomas decorrentes da infecção:
- Dor intensa, sensação de movimento, desconforto e ferida visível;
- Ferida com fétido, presença de secreções e possível aparecimento de vermes;
- Potencial dissecção do tecido, necrose e risco de septicemia se não tratada adequadamente.
“Nos casos humanos, a infecção é rara, mas pode ser extremamente dolorosa e, se ignorada, tende a desencadear complicações graves”, sustenta o mestre em ciências médicas.
Condições de saúde
Também conhecida como miíase, a infecção de pele causada pela infestação de larvas de moscas, quando não tratada com rapidez, tende a desencadear condições de saúde, conforme elenca Albanaz: infecção bacteriana secundária, agravando o quadro; e destruição de tecidos vivos, o que pode levar a dor crônica, lesões de difícil cicatrização e, raramente, risco de morte.
“Cicatrizes extensas, deformidades locais ou, dependendo da localização, impacto funcional (por exemplo, em mãos, face ou genitais, embora raros)”, acrescenta o médico.
O infectologista Werciley Júnior elucida que, para retirar a larva da mosca-bicheira, o método mecânico costuma ser o mais comum. Ele enfatiza também sobre o uso de antiparasitário. Quanto a esse tratamento, o clínico geral Lucas Albanaz sustenta sobre a administração de um medicamento oral favorecer a migração espontânea do parasita.
O mestre em ciências médicas pontua: “O tratamento envolve a remoção das larvas, que pode ser feita por meio de coberturas específicas, capazes de impedir a respiração do parasita e o forçam a emergir, facilitando a retirada com pinça. Cirurgia simples, casa haja muitas larvas ou dificuldade de extração.”
O clínico geral recomenda também fazer a limpeza e desinfecção da ferida, com antibióticos quando necessário, especialmente para prevenir infecções secundárias. O infectologista aconselha ter cuidado com a higiene das lesões. “Sempre observe se insetos não atingiram a pele, caso tenha alguma suspeita, procure um médico para a possível retirada emergencialmente”, indica.
“No Brasil, não temos muitos relatos dessa infecção por mosca-bicheira, mas sabemos que existe nos Estados Unidos após a confirmação do primeiro caso de transmissão humana, mas o grande risco é atingir animais de criação de grande porte, tipo gado e porcos”, esclarece Werciley Júnior.
Como se proteger?
Segundo o mestre em ciências médicas, reduzir o risco de infecção pela mosca-bicheira requer:
- Em áreas endêmicas ou durante viagens, proteger feridas devidamente, manter a higiene rigorosa e evitar a exposição a moscas.
- Utilizar repelentes e roupas que protegem a pele.
- Feridas abertas ou expostas a moscas devem ser limpas, desinfetadas e observadas atentamente.
- Em casos suspeitos — como sensação de vermes ou lesões incomuns —, procurar atendimento médico imediatamente.
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