Camisas falsificadas de clubes de futebol ganham mercado europeu


Camisas falsificadas (ou piratas) se tornaram cada vez mais comuns entre jovens, que muitas vezes não dispõem de grandes quantias para adquirir os modelos mais recentes que os clubes lançam a cada temporada.

No futebol, por exemplo, é comum o lançamento de três modelos de camisas utilizadas em jogos para fomentar as finanças. No Brasil, uma camisa oficial de time que disputa o Brasileirão não sai por menos de R$ 350, enquanto na França a camisa de um clube que joga a Ligue 1 custa em torno de € 110.

É neste ponto que as falsificações ganham força no mercado do futebol. O gasto é muito menor para quem opta por adquirir camisas falsificadas, fazendo com que os torcedores descubram caminhos tortuosos para comprar camisas e produtos que representam seus clubes favoritos. O aquecimento do mercado de falsificações financia o crime organizado, segundo Delphine Sarfati-Sobreira, presidente do sindicato de fabricantes Unifab.

Entrevistado pela RFI, Alexandre tem um guarda-roupa de dar inveja a muitos fãs de futebol. Como muitos jovens, ele coleciona camisas dos principais clubes do mundo. Uma coleção que, em teoria, valeria milhares de euros. No entanto, todas as suas camisas são falsificadas.

Parece, mas não é

“Sinceramente, quando você veste, não dá para notar a diferença. O tecido pode ser um pouco pior, mas à primeira vista, está tudo bem”, explicou, afirmando que a camisa falsificada é muito parecida com a oficial.

Ele tem mais de 40 camisas em seu armário; todas compradas em sites como KKgool ou MaxMaillots por cerca de € 30 cada. Mas o caso do Alexandre não é o único.

De acordo com uma pesquisa do Ifop (Instituto de Estudos de Opinião e Marketing da França), realizada em 2023 em conjunto com o Sindicato dos Fabricantes (Unifab), 15% dos entrevistados reconheceram que já compraram artigos esportivos falsificados. Esse número sobe para 20% entre jovens de 15 a 18 anos.

A alfândega francesa confirma a tendência explicitada no resultado da pesquisa: em 2023, mais de 40% dos produtos apreendidos foram artigos esportivos, que ficaram à frente de perfumes e artigos de couro.

“Vários milhões de camisas falsificadas são vendidas a cada ano. Isso deve representar pelo menos 20% do mercado ou até mais em alguns países”, garantiu Delphine Sarfati-Sobreira.

Apreensões cada vez maiores

Em julho, mais de 24.000 camisas foram interceptadas na região do Jura, no leste da França. Os novos uniformes do Real Madrid e do Barcelona para a temporada 2025/2026, com nomes de Mbappé e Yamal, foram encontrados em um caminhão.

Na Espanha, pouco antes do início da Eurocopa do ano passado, as autoridades apreenderam 11 toneladas de camisas falsificadas. “Com o início dos campeonatos nacionais e continentais, esse é o setor mais copiado pelos falsificadores”, explicou Sarfati-Sobreira.

Para o estudante Mohamed, torcedor do Olympique de Marseille, comprar produtos piratas é, acima de tudo, uma solução econômica:

“Sinceramente, gastar € 110 em uma camisa de futebol é muito caro. Com esse dinheiro, consigo pagar mais de um mês de compras”.

Como muitos jovens, Mohamed se beneficia do crescimento das compras online. “Antes, você tinha de ir às ruas e percebia que o produto era falso. Agora, você compra online e, quando a camisa chega em casa em uma semana, você percebe”, explicou.

Por muito tempo, Alexandre evitou admitir a origem de suas camisas. “Ninguém percebeu que não eram autênticas. Logotipos, patrocinadores, números e nome do jogador: está tudo lá”, disse.

Delphine Sarfati-Sobreira, no entanto, faz um alerta: “Há uma grande diferença entre camisas autênticas e falsas, especialmente no tecido. Camisas falsas podem conter corantes tóxicos, estarem carregadas de chumbo e causar alergias. São produtos extremamente perigosos para os consumidores”.

Mercado de camisas falsificadas financia crime organizado
Mohamed, por sua vez, reconhece que as camisas falsas se desgastam mais rápido, mas isso não o desanima. “Mesmo que a durabilidade não seja grande, essas camisas cumprem seu papel”, afirmou.

No entanto, o que Mohamed e muitos outros torcedores não sabem é que estão sujeitos a uma multa de até € 300 mil e uma pena de três anos de prisão. “Uma vez, tive de pagar € 10 para liberar meu pacote na alfândega do aeroporto”, revelou Alexandre, que considera essas multas desproporcionais.

Mas é bem verdade que dificilmente os consumidores deste tipo de produto sofrem penalidades. Na prática, apenas revendedores organizados são processados.

Para Sarfati-Sobreira, esta situação “não é brincadeira”: “Quando você compra uma camisa de futebol falsificada, você financia diretamente o crime organizado e até mesmo o terrorismo. Estou falando das redes criminosas que usam a falsificação para financiar outras atividades”, denunciou a CEO.

Esta conexão entre camisas falsificadas e crime organizado muitas vezes é desconhecida pela maioria dos jovens. “No meu grupo de amigos, todo mundo já comprou camisas falsificadas em algum momento. É algo tão comum que ninguém mais pensa nisso”, admite Alexandre.

Para Mohamed, ser torcedor de futebol significa ter os uniformes mais recentes do clube e, se possível, sem ter grandes prejuízos.

“É uma espécie de obrigação. Principalmente porque os preços das camisas oficiais não param de subir. Em 2013, por exemplo, uma camisa de clube que disputava a Ligue 1 custava € 69. Hoje, uma camisa do Olympique de Marseille, com número e nome de jogador, custa € 150 nas lojas oficiais. Por outro lado, não é difícil encontrar camisas falsificadas por € 30”, explicou.

De quem é a culpa?

“Entre assinaturas de TV, ingressos para estádios e camisas que custam mais de € 100, o gasto do torcedor com o clube fica alto demais”, reclama Alexandre, que aponta a responsabilidade das marcas pelo aumento dos preços das camisas.

Segundo a ONG Clean Clothes Campaign, a produção de uma camisa de futebol oficial não passa de € 15. Devem ser somados entre € 2 e € 3 para gastos com frete e logística. Nas lojas, o preço final é superior a € 100. Deste valor, 1% vai para os salários dos trabalhadores.

Para o Sindicato dos Fabricantes, a responsabilidade recai sobre os consumidores: “São os mesmos que têm celulares caríssimos. […] Você sempre tem escolhas na vida; não somos obrigados a nada. Afinal, ou você tem princípios, ou não tem”, responde Delphine Sarfati-Sobreira.

Ciclo sem fim?

A CEO do Unifab enfatizou as condições de fabricação: “Camisas falsas vêm de fábricas clandestinas, onde os trabalhadores são frequentemente maltratados e mal remunerados, enquanto as oficiais são produzidas em fábricas que cumprem a legislação social do país e os rigorosos padrões de qualidade”.

Apesar desses riscos e das suspeitas de financiamento criminoso, Alexandre admite que continuará comprando camisas falsas de futebol “enquanto as autênticas continuarem com preços inacessíveis”.

Segundo o Unifab, a falsificação teria causado prejuízos de quase € 850 milhões a clubes e fabricantes em 2023.

E a disputa entre oficiais e falsificadas alimenta um ciclo vicioso: quanto mais as perdas dos clubes e fabricantes aumentam, mais altos são os preços para a compensação; e, ao mesmo tempo, mais torcedores compram camisas falsificadas.

 



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